quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Vamos Implodir a Bahia!!!

Yes, já temos o nosso 11 de setembro!

Depois da fatídica data de domingo, quando quase uma dezena de baianos despencou buraco abaixo em uma das galerias do Estádio Otávio Mangabeira, presenciamos uma medida tomada pelo Governo do Estado, a qual entendemos como a mais genial medida tomada por um governante, “neste país”, nos últimos 500 anos. Vamos implodir a Fonte Nova. Em seu lugar, vamos erigir um “Estadio multiuso”. Maravilha do pensamento humano, fico a imaginar o que tenha se passado na cabeça no nosso supremo alcaide quando tomou esta decisão (afinal, sempre é um começo, temos que ter esperanças). Ora, o Estádio não oferece mais segurança a população e não podemos deixar que uma dezena de baianos morreu sem termos que tomar uma medida drástica como a anunciada. Vamos implodir e reconstruir.

Como sou um bom baiano e gosto de contribuir com o futuro da minha terra, passo a colaborar com a idéia do governador e sugerir uma maior abrangência desta tão aclamada medida, afinal, agora, os jogos da segunda divisão poderão ser executados em um local mais moderno e seguro ao custo de 300 milhões de reais, tal qual o Engenhão, que custou aos cofres públicos 350 milhões. Temos só que rezar para que os nossos cálculos não estejam errados, pois o estádio carioca começou com um orçamento de 60 milhões e, depois de múltiplas idas e vindas, saiu por 350 (apenas 5 x mais). Aproveitemos então ensejo e vamos estender as implosões.

Vamos implodir todos os hospitais e postos de saúde do Estado, afinal, diariamente morrem centenas de baianos vitimas do descaso, da falta de comprometimento do sistema com a população, da falta de seriedade, da falta de competência, da falta de vergonha, da falta de recursos. Vamos implodir o sistema único de saúde, que finge existir sem se constranger com o cheiro da morte em suas mãos. Vamos implodir as escolas e universidades, que viraram casas de fabricação de medíocres, sem capacidade de pensamento critico e absoluta visão de liderança. Vamos implodir este sistema que está condenando o futuro deste país pela falta absoluta de pessoas que possam conduzir o seu desenvolvimento e pela formação de eleitores ávidos por um paizão, coronel, chefe, que mande em tudo e resolva tudo, custe o que custar, que apóie a corrupção e seus corruptores. Vamos implodir o sistema de saneamento básico. Segundo a pesquisa "Trata Brasil: saneamento e saúde" da FGV, a falta de saneamento básico é a causa maior de óbitos entre crianças entre 1 e 6 anos e as chances de um habitante da favela morrer por problemas decorrentes da falta de saneamento é 28% maior dos que por outras causas (pobres e crianças são menos importantes do que torcedores do Bahia?), vamos ter que esperar até 2122 (conforme informa a pesquisa) para termos condições dignas para o nosso povo? Vamos implodir a prefeitura municipal afinal, o prefeito, eleito pelo povo, deu o seu mandato para o pessoal do PMDB em troca de uma prorrogação da sua extrema-unção da sua vida política. Vamos implodir as secretarias de governo, que não conseguem sequer gastar o orçamento do Estado pela falta de decisão e comando internos. Vamos implodir a câmara dos vereadores, que está doida para entregar a orla de Salvador para as construtoras sem se importar com a degradação da cidade e das suas conseqüências. Vamos implodir o judiciário, que lentamente condena aqueles que não podem, segundo o jurista Saulo Ramos, postergar a sua culpa até a prescrição. Vamos implodir a Bahia...

No final, restará um grande terreno baldio, cheio da gente boa desta terra, cujo comportamento exemplar o faz único. Vamos chamar um grande arquiteto e projetar um Estado Multiuso, mais moderno, seguro e cheio de possibilidades para TODOS NÓS.

domingo, 14 de outubro de 2007

Rapidinhas...

Extra, Extra!!!

Vocës sabem por que o romance de Renan e Monica acabou?

Falta DE COURO Parlamentar... HAhahahahahahah!!!!!

sábado, 13 de outubro de 2007

Olho Por Olho

Não assiti ainda ao filme “Tropa de Elite” mas, sem dúvida, irei. Irei porque quero ver, pelo menos uma vez, um filme onde o bem vence ao mal. Já não era sem tempo um filme que saísse da visão teatral e filosófica de analisar o mal pelas suas origens, valorizando o elemento humano e o charme do bandido. Cheguei a pensar que o mocinho fosse o elemento careta as ser banido das nossas vidas e dos nossos sonhos e que os filmes estavam trazendo apenas a visão da culpa de cada um de nós por existir o crime e não estarmos fazendo a nossa parte.

A predominância é do mocinho contra o bandido, o qual aparece sempre elegante e travestido de razão. O mocinho tem que lutar contra as peripécias do bandido e contra a simpatia que os mesmos adquirem nos poucos minutos do filme. É o lado poético do autor fazendo a sua parte mas, será que é isto que queremos ver?

Desde pequenos vimos sendo educados a pensar que as forças do bem sempre superam as do mal e que o mocinho sempre vencerá. Tal relação de consequencia nos redime e nos faz adquirir forças para recomeçar naqueles momentos em que somos derrubados por aquele cidadão que nos passou para trás ou aquele companheiro ou companheira que nos traiu. O “tempo é o senhor da razão” e, lá na frente, a nossa vingança acontecerá, mesmo que não seja nesta vida.

A religião traz a mensagem de que o que fazemos em vida determina a nossa condição após a morte. Tal como um pagamento por uma vaga em um hotel melhor ou pior no além, as noções do bem se fundamentam em conceitos como pecado, fé, harmonia, caridade, etc. Na verdade, esta certeza de algo que não podemos comprovar em vida nos redime contra o mal. Confesso que tenho sentido falta dos milagres de Deus nos filmes que mostram o embate do céu contra o inferno. Antigamente tinha mais milagres ou , por não ter Internet, as pessoas precisavam de mais evidências para acreditar ? O fato é que quando Jesus subjulgava Satã em suas pregações ou quando renascia moribundos, sabia que seus feitos atrairiam mais e mais fiéis. Quem é que não quer ficar do lado dos vencedores? Hoje quem opera milagres são as Igrejas alternativas que já entenderam que este é o caminho para aumentar a frequesia e os seus fundo$.

Precisamos sim de mais evidências do bem contra o mal. O mal tem que ser derrotado sempre, nos filmes, em nossas cabeças e nossas vidas. Sem isto, estaremos condenados ao desistímulo de sermos corretos, firmes em nossas posições e discrentes de que, mesmo que seja em outra vida, a nossa vingança virá. Isto faz toda a diferença e representa um reforço positivo importante na corrente do bem que temos que fortalecer. O fato do filme ser violento e fazer tanto sucesso não deveria surpreender ninguém, e não deveríamos perder tanto tempo explicando as forças do mal nos mensageiros do bem. Tamanha a violência que os bandidos tem nos tratado, deixando-nos completamente impotentes diante de suas armas bobas e mentes animais, que apenas com a mesma moeda poderíamos encontrar a nossa vingança e o melhor, em vida. Faz parte da nossa essencia, desde o tempos do Código de Hamurabi, 1730 a.C., onde as noções de “Olho por Olho” foram transcritas como lei fundamental. O filme retrata exatamente isto, sem nada mais. Pelo menos, na ficção, estamos sendo vingados!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Deus e o Diabo na Terra da Pizza

Se este fosse um País sério, ao invés de PEDIR a Deus pelo seu mandato, o Senador Renão Fui Eu já teria pegado o seu mandato e DADO a Deus.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Lula e o Mandato de 10 anos

Sabe como é que se chamaria um governo de 10 anos com o presidente Lula ?

Seria o 10 Governo

Lula e o Choque de Gestão

Ao defender explicitamente a contratação de funcionários para o governo, o presidente Lula confunde “Choque de Gestão do Estado” com “Gestão em Estado de Choque”.

domingo, 30 de setembro de 2007

O Brasil é Brega!

Desde o tempo em que eu era criancinha, e olha que isto já tem muito tempo, ouvia falar que o Brasil é o País do futuro. Muito bem!, ser do futuro significa ser moderno, ser evolutivo e pró-ativo, significa estar à frente dos demais, significa uma escala de coisas planejadas que se suscedem até a formação de uma nação de vanguarda digna desta conceituação. O Brasil é o país do futuro, sem dúvida, mas futuro do pretérito, ou seja, seríamos isto, seríamos aquilo, seríamos qualquer coisa se não fosse o fato de sermos um país brega.

Ser brega significa não ter personalidade formada e estar sempre querendo aparecer através de estereótipos de fachada. Temos o maior rio do mundo e isto não mudou o destino das nossas crianças, temos a maior floresta do mundo e isto não nos impede de destruí-la impunemente sem controle e com a compra da fiscalização oficial. Somos um país democrático e com política estável, mas isto não nos impede de fazer dele um dos regimes mais corruptos e ineficientes do mundo. Por outro lado, temos São Paulo, a megalópole brasileira, capaz de sozinha responder por sessenta por cento do nosso PIB, e daí, temos Ferraris, helicópteros, campos de golfe, muito dinheiro e ricos, ricos prá valer. O resto do país vive das migalhas do que sobra dos quarenta por cento restantes e daí temos, pobreza, ignorância e uma população humilhada e sem perspectivas.

Quando participo de eventos que discutem o nosso posicionamento no mercado global fico impressionado com a facilidade como usamos termos sofisticados para justificar as nossas mazelas e dos planos mirabolantes para resolvê-las. Como no sítio do pica-pau amarelo, o pó de prilimpimpim vai fazer todo o nosso atraso e mediocridade ideológica desaparecer por um plano de papel. Elaborado o plano, dentro de um grupo de estudo, feitas as estatísticas, tudo está resolvido. Se não der certo, a culpa não é dos estudiosos do plano, a culpa é de aspectos conjunturais alheios à nossa vontade. O que precisamos perguntar à nós mesmos é, e dai? O que é que isto tudo mudará a nossa história para que nos tornemos o país do futuro?

Enquanto isto, fazemos festas na ilha de Caras, usamos restaurantes caros, pagamos juros e prestações para parecermos ser o que não somos, pelo menos ainda. Agindo como novos ricos querendo se auto-afirmar, usamos de uma retórica desenvolvimentista que, para os desavisados, soa como sucesso e vitória, mas para nós que não vemos o prenúncio de um futuro melhor dada a volatilidade das ações e a superficialidade das teorias soa como picaretagem.

É uma pena! Se não podemos ser o país da microeletrônica podemos ser do agronegócio, do turísmo, do entretenimento. Podemos ter nas nossas competências essenciais a razão do nosso futuro destacado. O Brasil ainda tem em terras não cultivadas a área cultivada dos Estados Unidos e China juntos. Não podemos ficar como bobos no meio da praça, indecisos se vamos para a briga da ciência e tecnologia eletrônica ou se desenvolvemos principios científicos e tecnológicos que nos fortaleçam em nossa posição de vantagem competitiva. Precisamos ter foco e estratégia de guerra. Temos que nos fortalecer para expandir e não tentarmos ser competitivos com micro espasmos de empreendedorismo, totalmente desarticulados.

Quando traçamos paralelos com outros países, a sensação que a ausência de uma grande guerra, de alguma calamidade, tal como a guerra de secessão dos Estados Unidos, ou as grandes guerras mundiais, deram ao brasileiro a sensação de recursos inesgotáveis, para os quais não temos que despender nenhum sacrifício de preservação. Nada parece ameaçar as nossas vidas e o nosso instinto de sobrevivência nos diz que o nosso território é suficiente para que mantenhamos casa e comida. Prá que pensar em competir, em expandir territórios, se temos tudo por aqui ? O preço é que ficamos pobres, então, finjamos que somos ricos e daí para a mediocridade é um pulo.

Amo o meu país, as suas matas, o por do sol, o mar, a vida, tudo. Pena que a ignorância está nos matando aos poucos. Como um vírus mortal espalhamos a nossa mediocridade pelas escolas, formando medíocres como nós, pelas ruas, pelo mundo. É uma pena!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Nova Dupla Sertaneja

Em virtude da perseguição à prostituição no País, o dono do Bahamas e Bruna Surfistinha resolveram formar uma nova dupla sertaneja....


Essa dupla é SACANAGEM!!!!!!!

Atenção às Diferenças

Sabe qual é a diferença entre D. Marisa e as outras mulheres ?

É que as mulheres colocam mascara facial para dormir e D. Marisa coloca para ficar acordada.

Curtinhas







segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Esqueçam Renan

Esqueçam Renan

Amigos, desde a última ação democrática do Senado, tenho me contido em escrever sobre o tema, dada a minha insatisfação e estupefação diante do fato. Contudo, tal qual um soldado ferido de morte no campo de batalha, ainda me restam fragmentos de força que me fazem rastejar até a minha metralhadora e desferir alguns poucos tiros antes de ser retirado para repouso. A questão que não quer calar é... Qual o direito que tem o Congresso de se colocar acima da lei e da ordem? Com quais instrumentos, exceto a força bruta, restam à população para fazer valer o seu direito de igualdade. Aquela estória (com “e” mesmo) de que todos somos iguais perante a lei, cai por terra quando os homens que fazem as leis as descumprem solenemente, e o pior, por um punhado de Dólares. Safados, filhos da puta, sem caráter, quem vocês pensam que são? O que vocês pensam que somos? Somos uma sociedade que tem acéfalos que votam em vocês e reiteradas vezes repetem o erro em fazê-lo, mas também somos uma sociedade que tem pessoas que pensam, que raciocinam e que não admitem que vocês façam conosco o que vocês estão fazendo. Não os reconheço como autoridades morais, nem como autoridades de fato, visto que vocês buscam no submundo do crime as razões para a sua existência. Corja de canalhas, isto não vai ficar assim!!!!
A única coisa que me resta pensar é que os nomes Deputado e Senador têm influenciado aqueles que ocupam tais cargos. Quando ouvimos deputados, sabemos que puta no meio. Os senadores... há! Os Senadores... A Sena é deles (eles todos ficam ricos) e a DOR é toda nossa.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Rapidinhas

Sabe por que o julgamento dos mensaleiros está sob suspeição ?

É porque tem ministro LevandoWisk.....

Sabe qual o nome novo do partido da Senadora Banguelelena ?

PDSOL (partido do dente Solto)

Sabe por que Débora Secco acha todos os homens iguais ?

Porque à SECO é muito complicado, prá qualquer um....

Extra, Extra... Furacão na Flórida afeta cotação dos Senadores em Brasilia.

quiáquiáquiá!!!!!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O DissiDENTE

O dissiDENTE

Pluft!!!

Puta que o pariu, pensou assustada a Senadora...

- Dentista “fela da puta”, provisório vai ser é o seu registro...
E lá se foi o dente, livre como um pássaro a voar diante das câmeras de TV para milhões de telespectadores.

Desde o início da semana, a Senadora suspeitava que aquele dente, que já lhe havia pregado uma peça há alguns anos atrás, preparava-lhe algo verdadeiramente surpreenDENTE.

Precavida, foi consultar-se com o seu dentista que já há muitos anos lhe cuidava da saúde bucal. Aproveitou que estava em sua terrinha e dirigiu-se para o endereço de costume, na praia de Pajussara. Ao chegar lá, deparou-se com uma monumental fila de prováveis clientes, os quais aguardavam ansiosos a abertura dos portões. Desde a última crise no sistema de saúde do seu Estado, restaram poucos os profissionais de saúde dispostos a trabalhar sob as condições ofertadas pelo governo. O Dr. Jacinto era um deles.

Sem entender nada, foi até o porteiro, um rapaz alto e forte, vestido de paletó azul que, em vão, tentava conseguir conter os ânimos da multidão.

- Sr. Bom dia, eu sou a Senadora e gostaria de saber se o doutor Jacinto Dores se encontra.
- O Dr. Jacinto está em greve
- Greve, mas como assim ?
- Greve minha senhora! Ele tem bem uma semana que não vem aqui.
- E, não tem nenhum outro profissional na cidade que possa vir atender a toda essa gente?
- Num sei não! - Disse com ar conclusivo o cidadão..

Desiludida, a Senadora deu meia volta e contemplou a verdadeira revolução popular que aflorava a sua frente. Crise na educação, crise na saúde, crise no ar, crise na terra... Em vão, buscou palavras que pudessem ser usadas em seus próximos discursos de protesto contra o presidente, seu ex-amigo e aliado, que fossem significativamente representativas da situação. Após algumas horas pensando, enquanto perambulava pelo centro da cidade, lhe veio a única palavra que podia sintetizar tudo aquilo que seus olhos resistiam em ver.

- FUDEU!!!!

Mal acordava de seus pensamentos exitosos por encontrar a síntese do governo popular instalado no país, recebeu um banho de água vindo de uma poça formada pela chuva do dia anterior. Um carro conversível, uma Mercedes de último tipo, em alta velocidade, dirigido pelo igual colega Senador, não poupou a ilustre senadora de um ilustrativo banho. Sem perder tempo no Aurélio, recorreu ao mesmo dicionário que lhe havia brindado com o pensamento anterior para proferir uma saraivada de impropérios capazes de fazer corar até os mais despudorados.
De repente, uma dor insuportável vinda das profundezas da boca, lhe lembrou que o referido dente ainda necessitava de cuidados especiais e sem saber ao certo para onde ir, perambulou pelas ruas na esperança de que pudesse encontrar algum remanescente que lhe restabelecesse a paz. Hoje pela tarde ela teria que voltar à Brasília para participar de uma entrevista em um programa da TV aberta e este dente poderia ser um problema.

Foi quando avistou, no fim da rua, uma placa. Dr. Prudente, especialista em próteses e cirurgia geral. Para seu espanto, não havia fila na porta e parecia que o estabelecimento estava aberto.

- Tem alguém ai? - Bradou a senadora...
- Pois não, sou o Dr. Prudente, em que posso ajudá-la?
- Mas o senhor não está em greve?
- Sou recém-chegado e ainda não pude me interar das coisas da terra. A senhora é minha primeira cliente.

Um misto de medo e desesperança afogou os pensamentos da Senadora, cada vez mais sem opção.

- O senhor é formado?
- Claro, sou formado pela Faculdade Alegria, a senhora conhece?
- Nunca ouvi falar...
- Em primeiro lugar gostaria de lhe dizer que é uma honra atendê-la!

Disse o doutor enquanto arrumava a cadeira...
Ferros, crashes, plings e blongs depois, veio a sentença...

- O seu dente posterior esquerdo, está perdido. Temos que arrancá-lo
- Mas como? Tenho uma entrevista esta semana e não posso aparecer sem dentes...
- Não se preocupe, colocarei um provisório. Ninguém vai notar.

Acostumada às coisas definitivas a senadora teve que ceder aos argumentos profissionais do Dr. Prudente.

-Deva avisá-la senadora... Com o tempo, Vêm os anos, vão-se os dentes.
- Quando precisar pode me procurar que eu sou especialista em próteses e posso lhe restabelecer o sorriso caso lhe faltem dentes.

Irritada com a ousadia do protético, saiu com seu dente provisório rumo ao seu compromisso.
Câmeras, luzes, ação, deu-se inicio o evento..

Após a primeira pergunta, quando se preparava para limpar a garganta, a senadora viu ruir as suas chances de ir para a Playboy. O dente, fugiu do seu controle e partiu rumo a carreira solo, literalmente.

Mão na boca, suspiro geral, só lhe viram a mente as palavras do Dr. Prudente... “Com o tempo, vêm os anos e vão-se os dentes”

Moral da história... “ Os esquerdistas, quando novos, são contra a ditadura... Quando velhos, são a favor da Dentadura”.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

DOIS PRETOS E DUAS MEDIDAS...


Antes que os racistas de plantão me chamem de colega, quero lhes dizer que, como não sou parente do cônsul da Suécia, sou, tal qual 99% da população baiana, afro-descendente com muito orgulho, até porque a cor me cai muito bem. Talvez não seja 100% negro, mas, se morasse nos Estados Unidos, talvez pouca diferença existisse entre a minha pele e a de Pelé.

Assim é o mundo, desde os seus primórdios. No começo da colonização do Brasil, os nossos parentes degredados mandavam seus filhos estudarem na Europa, se sofisticarem na corte, para depois animarem os saraus e festas promovidas por nossos antepassados. Era absolutamente chique vestir as roupas que eram usadas na França e copiar os gestos tresloucados da elite imperial, mesmo no clima tropical do Brasil. Vestindo-se assim, era fácil separar os ricos e influentes dos pobres. As tribos se caracterizavam não por aspectos individuais comuns dos seus membros, mas pelo estereótipo de algo que, no velho mundo, representava o poder e a riqueza.

Talvez este costume seja lastreado em algum aspecto genético do ser humano, ligado quem sabe à preservação da espécie. Porém, o fato é que a representação da posse de patrimônio funcionava muitíssimo bem na época em que as terras e os títulos definiam os cidadãos e suas respectivas castas sociais. Com o advento da revolução industrial, no século XIX, a propriedade dos meios de produção passaram a ser o fator de geração de riqueza e ostentação de poder. No mundo do tangível, a materialização das representações sociais são facilmente auditáveis, pois estão lastreadas em coisas em que se pode tocar. A pergunta que não quer calar é: Por que então no mundo do imaterial, do virtual, os brasileiros insistem em trabalhar com as questões sociais tal qual estivéssemos no século XVI ?.

O acesso as altas castas da sociedade é permitido àqueles que, tal qual nossos primos enfeitados com os métodos europeus de então, ostentem características externas em que sejam exacerbadas as evidências físicas de posses e poder. Um afro-descendente em tons mais escuros tem mais dificuldade de morar em um condomínio de luxo do que um mesmo afro-descendente de tez mais clara. Os seus filhos não podem se casar com loiras bonitas sem que pareça interesse de sua parte usurpar uma condição pertinente à sua parceira. Idem para as suas filhas que não podem se casar com o filho do cônsul da Suécia sem parecer que é aproveitamento de gringo para sair da miséria. Ou seja, o fato dos africanos terem sido escravos lhes tirou o direito de serem comparados aos arianos no plano social. Somos liberais em uma sociedade de costumes absolutamente racistas e pagamos o preço da segregação.

O pior é que a comunidade Afro-descendente entrou na briga e criou a sua própria casta, invertendo a lógica do ser dominado e passou a requerer protecionismo, aumentando, ao meu ver, a sua condição de vítima da sociedade. Nos primeiros dias após a libertação dos escravos deve ter sido primordial a adoção de medidas que lhes assegurassem o seu direito de serem livres e a sua inserção na sociedade. Mas, passados 119 anos da abolição da escravatura no Brasil, ainda precisamos de cotas? Ou serão as Cotas a única resposta do governo à questão da ascensão social do negro no Brasil? A ausência de uma abastada elite negra no País, em número suficiente para que a mensagem de que todos somos iguais perante o capitalismo seja passada de forma contundente, com certeza impede que as manifestações racistas sejam abrandadas, senão abolidas. O problema não é a cor da pele. O problema é a condição social. Os afro-descendentes estão associados à pobreza e a associação a eles remete a esta condição social. Um empreendimento de luxo talvez tenha restrições aos afros para que fique clara a condição de associação de status e riqueza do empreendimento. Ainda não fazemos propagandas de carros comprados por afros para que a mensagem de que este produto não é para qualquer um e que este é apenas para os “selecionados” seja passada como diferencial maior deste carro. Ou seja, quando a sociedade associa cor da pele à condição social, tal qual no inicio da colonização do Brasil, os de pele menos favorecida são excluídos.

Quando uma ministra se dá ao luxo de dizer que é natural um homem de pele negra não gostar de um homem de pele branca, evidencia o quanto estamos longe do verdadeiro problema. Homens brancos já escravizaram homens brancos e nem por isso eles devem se odiar. Quando o governo institui as cotas, abre espaço para que aqueles que na sua pobreza foram desprestigiados de uma educação de base digna, sejam incluídos à força nas instituições de nível superior. Este não é um assunto de inclusão social simplesmente, é matéria de estatística, muito boa para os governos, mas questionável em termos de única solução para o problema. Será que a grande maioria sem base conseguirá se superar e se transformar em geradores de riqueza, em profissionais da sociedade do conhecimento? Onde eles vão aprender a pensar, a ter a visão crítica da sociedade? É no mesmo lugar em que deveriam estar se especializando em uma profissão? O nosso caso volto a dizer, não é se o quadro é preto ou branco, o nosso problema é se o homem é pobre ou rico e aí as questões como distribuição de renda, falta de planejamento, corrupção, falta de preparo dos governantes para governar, leis feitas no joelho e cumpridas quando convém, falência na educação do país, baixas taxas de crescimento, juros altos, muitos impostos, vão sendo colocadas por baixo do tapete, com soluções tampão para as suas conseqüências.

Se quisermos ser iguais de fato e de direito, temos que optar entre duas alternativas: Ou evoluir a mentalidade social do Brasil para que deixemos de nos valer de estereótipos para classificar a quem nos juntamos, ou cobramos da sociedade que prepare o seu povo, pobres e ricos para a igualdade. Que as instituições sejam iguais para todos, afinal não há nada mais racista do que um Estado que trata pobres e ricos diferentemente. Que os homens e mulheres do Brasil sejam respeitados na sua condição de cidadão com educação digna e condições de saúde idem. Devemos cobrar medidas saneadoras e não paliativas para esta praga social que é a discriminação social, para que todas as raças tenham chances iguais de se tornarem seres sociais sem distinção. Aí quem sabe, a cor da nossa roupa passe a ser apenas um detalhe a mais do nosso visual.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

O Voto Emocional

O Voto Emocional

- Minhas Senhoras e Meus Senhores!!

- Povo da minha terra!!

- Gente como eu!!

- Meus amigos!!!

Deve estar no manual do “politiquês” moderno que se o político usar uma das frases acima poderá angariar alguns votos de simpatizantes que o verá como um ser do povo, amigo do povo e que trabalha incansavelmente pelo povo. Quem de nós não já se surpreendeu ao ver pessoas claramente mentindo em horários políticos da televisão escondendo-se por trás de frases de efeito como “tudo pelo social!!”, “gerando emprego e renda!!”, na nítida percepção de alguém vai acreditar neles.

O fato é que todos nós sentimos amor, amizade, desprezo e até ódio por algumas pessoas em nossas vidas. Esses sentimentos, segundo “a Vidente” Jo-Ellan Dimitrius em seu livro “Decifrar Pessoas”, tendem a comprometer nossa objetividade. “Não queremos pensar mal das pessoas que amamos e não queremos ver nada de bom naquelas que odiamos. Para complicar ainda mais a questão, não gostamos de mudanças. Por segurança e conveniência, temos um compromisso emocional – conosco – de manter as coisas exatamente como estão. A mesma corrente subterrânea que nos leva na direção do Status Quo também deturpa nossa objetividade quando estamos decidindo se devemos mudar”. Diz ainda a mesma escritora “quanto maior o compromisso emocional, maior a tendência a se comportar irracionalmente”.

Quinto Túlio Cícero, em carta ao irmão, Marco Túlio Cícero, candidato ao Consulado no ano 64 antes de Cristo, aconselhava-o a pensar, todos os dias, nas seguintes perguntas: “Que cidade é essa? Que cargo você pleiteia? Quem é você?” E sugeria a resposta: “Sou um homem novo, quero ser cônsul, aqui é Roma”. O homem novo expressava o perfil de resistência aos preconceitos dos velhos políticos; o cônsul era o cargo público mais elevado, algo como o presidente da República; e Roma designava tanto a capital quanto um país de vasta extensão que dominava o mundo mediterrâneo. Assim, como podemos observar, a fraqueza humana para o lado emocional no momento de avaliarmos os candidatos aos cargos públicos vem dos primórdios da sociedade organizada.

A quebra de paradigmas é o principal desafio imposto pelos que chegam ao mundo da política, para que os observadores o vejam como algo diferente, desafiador da ordem vigente e, portanto, merecedor de preciosos votos daqueles que ousam quebrar as barreiras da sua zona de conforto. De um jeito ou de outro, votamos pelo que sentimos e não pela racionalidade.

José Serra claramente perdeu a eleição para a presidência do Brasil porque não sabe sorrir, é feio e não fala a língua do povo. Atributos absolutamente dispensáveis quando pensamos em um administrador da coisa pública. Mesmo com a superexposição que recebeu na campanha, que o permitiu galgar rapidamente ao cargo de Governador do Estado, ele não teve chances contra um cara simpático, sorridente, de pensamento objetivo e curto e que é o povo encarnado. Quando ouço Lula conversar, fecho os olhos e me reporto ao botequim da esquina discutindo a ótima performance do Vitória no campeonato baiano e o porquê do Bahia estar na terceira divisão. E isto não o impediu de se eleger presidente da república por duas vezes consecutivas.

Ganhar o povo e a sua simpatia passaram a ser o único instrumento necessário a alguém se eleger a um cargo público. Propostas concretas para a melhoria das nossas vidas é algo secundário e acessório que não entra na discussão quando o assunto é política. Como resultado, ganhamos um poder público que legisla em causa própria, só pensa em poder, votos e dinheiro, sem se importar com os impactos negativos à sociedade dos quilos de decisões não tomadas por não se traduzirem em votos, dinheiro e poder ou por serem impopulares.

A cidade do Salvador é um exemplo claro disto. Temos uma prefeitura que não trabalha, vereadores que jamais viram uma verdadeira metrópole, sem falar nas comissões improdutivas do Estado e nos problemas estruturais que temos e não sabemos resolver. A nossa simpatia e medo de mudar, medo de pensarmos diferente, está nos condenando à mediocridade.

Se agíssemos diferente, cobrando propostas concretas de um pensamento desenvolvimentista e planejado dos nossos governantes, quem sabe poderíamos eleger pessoas feias e antipáticas, mas profundamente competentes, que poderiam resolver problemas sociais graves que temos há anos e que os bonitões não querem resolver. O voto do chinelo, da camisa, da falsa amizade, está sustentado por um sorriso temporal, por uma disponibilidade de acesso ao político absolutamente pontual e sem nenhum benefício concreto. Trocar nosso futuro por um par de chinelos, um emprego da tia, ou um amigo no poder é jogar fora a nossa chance de futuro. Deixar a emoção para a Fonte Nova no domingo, sem perder senso critico, é melhorar as nossas possibilidades de um futuro melhor e, com certeza, é diminuir a sensação de que somos diariamente enrolados.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

É Só Alegria


Diz o povo que a hiena é um animal que come os seus restos e ri. Ri de que mesmo hein ? Talvez este animal consiga sentir um gosto especial, que vai além da nossa capacidade e, por isso, achamos o seu paladar um tanto singular. Existem populações que comem tantas “especiarias” exóticas que nos impedem de conceituar as hienas como anormais. Da mesma forma, existem pessoas que diante da situação mais grave e absurda em suas vidas, uma vez indagados sobre a sua condição atual, dizem sem pensar – É só alegria!!!.

Outras pérolas saem das mentes férteis destes que, tal como as hienas, reajem de forma incomum diante de um fato de aspecto estranho. Todos nós discernimos as coisas fundamentalmente da mesma maneira, porém cada um de nós traz a essa capacidade comum uma interpretação individual adicional. O bioquímico e prêmio Nobel Gerald Edelman observou que, embora os cérebros individualmente sejam extraordinariamente diferentes, eles compartilham “experiências, características e padrões neurais comuns especialmente na experiência sensorial. Sem essa base comum, seria impossivel nosso entendimento exceto em mundos individuais isolados. Assim, nossa compreensão usa uma base neurológica humana comum, mas implementações individuais singulares.

Embora não precisemos nos aprofundar na neurociência para compreender do que estamos falando, tais informações são bastante úteis para que percebamos o quanto podemos ser ajustados à uma realidade conveniente. Nos mesmos estudos sobre os mapas da mente, se constatou que os nossos cérebros não utilizam cem por cento das informações captadas no meio externo para formarem os conceitos. Experiências prévias, outros conhecimentos ou dogmas arraigados nas profundas da mente montam esquemas chamados de modelos mentais, os quais deixam pequenas lacunas para informações novas que vão nos dizer do mundo que nos cerca. Em outras palavras, uma vez montados os nossos esquemas, captamos apenas parte do que vemos para formar o nosso entendimento do cenário ao nosso redor. O nosso computador pode ser programado para agirmos em conformidade com preceitos sociais, culturais, etnicos, religiosos e políticos, de forma que atuemos em conformidade com a ordem vigente.

Talvez isto explique porque uma pessoa que não goza de absolutamente nenhum respeito da sociedade, visto que lhe falta educação, saúde, moradia digna, pensamento crítico que lhe imunize de programações nefastas, possa dizer que sua vida de tristeza pode ser resumida à frase “É só alegria”.

Não preciso escrever muito para dizer o quanto não aprecio as campanhas que tentam inflar o ego das populações carentes em busca da formação de um “modelo mental” que lhes alivie a dor de viverem nas condições em que vivem e, ainda por cima, compareçam como fiéis escudeiros de uma ordem vigente. Em um país onde a educação é tratada como algo enfadonho que faz parte das pastas governamentais mas que não desfruta de nenhuma preocupação lógica, largamente desprezada em função dos interesses de “marketing” proporcionados pela causa, fica muito fácil emburrecer uma população, tirando-lhe a capacidade de consciência crítica e o seu poder de reinvidicar o que lhe é de direito.

Em um país em que um criminoso que leu meia dúzia de livros é tratado como gênio, onde quem fala difícil é tido como culto e onde os meios de comunicação se prestam unicamente à valorização dos seus espaços publicitários, é muito fácil ter uma população em cujo modelo mental não caibam inputs relativos à baixa escolaridade, ao descalabro na saúde pública, ao recrudescimento do crime organizado e da violência acalentada pelo poder público, à corrupção generalizada nos governos e do vazio dos líderes populistas fronteirissos de carteirinha.

Nós baianos fomos submetidos à uma campanha intensa de que somos belos, criativos e felizes. Que ser 100% negro é motivo de orgulho e até status. Mas de que mesmo hein ? A nossa população negra, que é maioria no Estado, possui os piores salários, os maiores índices de desemprego, os maiores índices de analfabtismo, precisam de vagas reservadas nas Universidades para poderem ter acesso ao ensino superior. A nossa população em geral é criativa, mas destruímos teatros para o funcionamento de bingos, estamos destruíndo a nossa indústria da música sem colocarmos nada em seu lugar. Sabemos receber mais os números do nosso turísmo são pífios se comparados a outros destinos até menos graciosos do que a nossa bela Bahia. Os nossos serviços são da pior categoria. A nossa indústria da tecnologia da informação não decola por falta de profissionais capacitados para tal, a população está empobrecendo, a capital do Estado está falida e as instituições públicas completamente podres. Mas mesmo assim... É Só alegria!!!

Sinceramente, não consigo entender o que está acontecendo!!!

Ou estamos presenciando um fenômeno de cegueira coletiva, ou estamos indo a passos largos rumo ao nosso fundo do poço. Temos que reprogramar os nossos modelos mentais, negar a toda forma de emburrecimento coletivo, a toda propaganda falsa que sirva apenas para nos transformar em símbolos de campanhas de curto alcance e de benefícios limitados à pequenos grupos. Precisamos tomar o rumo das nossas vidas, discutir ativamente o nosso futuro, sair da mediocridade de acreditar piamente em quem apenas enxerga o seu próprio umbigo. Temos que romper os grilhões desta escravatura cultural em que nos metemos e pensar criticamente em nossos destinos. Podemos também não fazer nada disto, continuarmos lindos, negros e felizes, pensar que tudo isto faz parte da teoria da conspiração e, quando o futuro chegar, quando estivermos mendigando as raspas de um mundo tecnológico e global, agradeceremos aos nossos senhores com um belo sorriso e com o indefectível... É Só Alegria! Axé!

Paulinho de Tarso – 02/05/2007

quinta-feira, 26 de abril de 2007

A Qualidade, a Ética e a Igualdade nas Compras Públicas

O mundo perfeito quando falamos em compras governamentais é que estas se prestem ao papel de forte indutoras do processo de desenvolvimento empresarial, tamanho o poder e grandiosidade envolvidos. A grande dificuldade aparece quando confrontamos os modelos de aquisição permitidos por lei, as restrições tecnológicas derivadas das demandas do Estado e a capacidade das empresas em suprirem estas demandas. É aí que a questão se apresenta: Como fazer o Estado comprador adquirir produtos e serviços de qualidade, que atendam a todas as suas necessidades de forma eficiente e eficaz, promovendo o desenvolvimento amplo do ecossistema empresarial local?

Diversos modelos estão sendo colocados em prática no mundo. Basicamente, os modelos de desenvolvimento das indústrias estão lastreados em processos de compras protegidas, ou seja, compras que apresentam características particulares que privilegiam setores induzidos pelo Estado, concessões fiscais, barreiras alfandegárias, acesso facilitado a crédito, dentre outros instrumentos de fomento conhecidos. Este é o cenário de uma batalha sangrenta entre a ética e a lógica, travada todos os dias entre o Estado e os seus fornecedores.

Analisando a questão legal e sem ater-me a ela, a Lei 8.666/93, que trata das compras públicas, traz em seu Art. 3o que as licitações destinam-se a garantia do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a administração. No mesmo artigo, que o julgamento se dará em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. Ou seja, os processos de licitação não podem privilegiar nenhuma proposta em detrimento de outra, exceto com base nas condições objetivas do edital. Porém, em casos onde houver a necessidade para a contratação de serviços técnicos de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, o art. 25º. torna inexigível a obrigatoriedade de licitação. A mesma lei que obriga a objetividade de critérios para tornar todas as empresas iguais perante o Estado comprador abre espaço para que, em determinadas situações onde a expertise técnica for fator indispensável para o atendimento pleno de uma demanda, possa haver contratação direta, valorizando os aspectos técnicos envolvidos na negociação.

Ainda na questão legal, outro termo que chama atenção é o da chamada “oferta mais vantajosa para o Estado”. Neste ponto, é importante desvincular o termo “vantagem” da abordagem perniciosa trazida pela “Lei de Gerson” onde o Estado possa comprar de forma tal que quem lhe venda seja reduzido às traças, restando-lhe minimamente a subvenção dos custos inerentes à operação. Ao contrário, lendo nas entrelinhas, entende-se pela aquela oferta que atenda aos requisitos mínimos estabelecidos em edital e que apresente as melhores condições de aquisição. Em uma abordagem popular, seriam as ofertas com melhor relação custo x benefício.

O que tem acontecido com muita freqüência é que o Estado tem comprado mal, pago mal, mesmo com a responsabilidade fiscal, e pago caro por isto. Em grande medida, as compras publicas, no anseio de cumprirem fielmente os preceitos legais - aqui descartadas as operações fraudulentas, matéria de direito penal e não administrativo - têm aceito ofertas bastante aquém do desejado, dando a entender que, quando da ocorrência do processo licitatório, as comissões de licitação foram bem sucedidas ao fazerem as melhores compras, independentemente da tibieza do licitante e dos artifícios usados para o atendimento do mínimo exigido. Para maximizar os resultados, as licitações são extremamente abertas, dando espaço para que concorrentes desqualificados se apresentem como solução para os problemas do Estado. Eticamente, este processo pode estar, à primeira vista, correto, porém, quando analisamos no longo prazo, nas infinitas ocasiões em que produtos abaixo das especificações repousam longamente em depósitos públicos por inadequação de uso, ou recompras de mesmo objeto, travestidas de novos processos, ampliam o rol do desperdício do dinheiro público, caem na vala rasa das ofertas que apenas a burocracia explica, e o pior, justifica.

O maior exemplo disto é o pregão. Diversos pareceres jurídicos já justificam a realização desta modalidade para serviços de alta complexidade, visando a “vantagem” pelo viés do custo, realçando a impressão de legalidade quando, na maioria das vezes, percebe-se, no médio prazo, um custo de propriedade brutal para os adquirentes das soluções “mágicas” oferecidas nos pregões. A sociedade do conhecimento está nos cobrando um preço alto demais por não sabermos valorar a sua subjetividade. As auditorias dos Tribunais de Contas limitam-se ao processo de compra, ignorando uma enorme quantidade de dinheiro público gasto erradamente, o que seria facilmente percebido se a auditoria acompanhasse o uso das soluções adquiridas durante o seu ciclo de vida normal.

Visando minorar o problema, a figura dos processos de técnica e preço aparece como um divisor de águas e um atenuante para questões técnicas mal resolvidas nas compras públicas. Por este mecanismo, reconhecem-se atributos técnicos que diferenciam as ofertas, em pesos que podem superar os impactos de preços. Ou seja, em um edital técnica e preço, a “vantagem” é comprar, dentre os melhores, o mais barato. Isto é vantagem real, desde que os pesos sejam distribuídos de forma técnica e equilibrada.

Da mesma forma que nos Pregões, esta modalidade tem o risco dos excessos. Pelo viés da técnica e preço, pode-se inverter a ordem dos pesos e qualificar melhor atributos pouco relevantes para o objeto da licitação. Assim, empresas que disfrutem das preferências do órgão licitante podem levar vantagens reais em uma licitação através da pontuação de itens que lhe sejam mais favoráveis, mesmo que estes contem pouco para a garantia de execução do contrato.

Neste ponto, onde a confusão é generalizada, o entendimento do que é de fato relevante para nortear os processos de compras governamentais torna-se essencial para o gestor público. Nenhum órgão deve ser penalizado se usar adequadamente a exigência de atributos como CMMI ou MPS-BR para licitações de software, mesmo sabendo que algumas empresas não participarão. Da mesma forma, licitações de serviços de segurança da informação com certificações ISO27001, ou para governança em TI (ISO20000), uma vez que estes selos garantem conformidade operacional destas empresas com os processos específicos do objeto contratado. A famosas certificações da família ISO9000 devem ser usadas quando aspectos de conformidade de processos produtivos sejam desejados. Embora garantam adequação de produto acabado em conformidade com requisitos de cliente, estas normas são pouco evidentes em atividades de processos e controles para atividades específicas ligadas à tecnologia, devendo pesar menos do que outros atributos reconhecidamente mais completos para tais atividades.

O certo é que o poder do Estado comprador não pode ser equivocadamente usado para beneficiar aquelas empresas que não investem em governança empresarial, em certificação dos seus processos finalísticos e, por conseguinte, que não atingem o nível de maturidade desejado para evitar compras inadequadas, levando ao desperdício do erário público. O equilíbrio entre a ética no uso das exigências corretas para escolha das empresas com capacidade para atender às demandas do Governo, dentro da lei, e a qualidade mínima desejada para as ofertas, é o ponto onde o Estado pode encontrar a sua melhor “Vantagem”. Ao se colocar como exigente comprador, o Estado incentiva a classe empresarial a investir em melhores práticas e em processos de qualificação, permitindo que a concorrência se dê entre iguais. Desta maneira, é imprescindível para os compradores que o corpo técnico responsável pelos processos de compra estejam atualizados em relação a estes requisitos, para que as compras públicas sejam o estímulo da atividade empresarial forte e inovadora, através de processos éticos e abertos, que valorizem mais os investimentos públicos.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

O luta do peixe e a busca pelo milésimo Gol

Dizem por ai que o português é uma lingua dificil. Também não é para menos. Uma mesma palavra pode significar mil coisas e, as suas diversas combinações, mais mil. É tanta confusão que o entendimento do sentido correto só é possível com o conhecimento prévio dos fatos, personagens e história pregressa. Neste tom, vamos esclarecer algumas coisas. Quando falamos, por exemplo, “João ficou sem manga”, podemos estar falando de alguem que perdeu as frutas, o pasto ou partes da sua camisa, sem falar em partes de um motor e coisa e tal. Para entender a frase, temos que conhecer João, sua história, para depois sabermos de qual manga estamos falando.

Algum desavisado pode falar que isto é comum, e de fato é. Em outras línguas acontece a mesma coisa. Tal fenômeno chama-se polissemia (de poli = muitos; semia = significado). Aprender a lidar com os diversos significados talvez nos ajude a entender fatos contemporâneos representados pelos mesmos signos mas com resultados totalmente diferentes.

Somos o país do futebol e disso temos que nos orgulhar, afinal não é a toa que nas conversas de botequim seja este o tema preponderante. Em cada terreno plano nasce um potencial campo de futebol, pronto para as peladas de final de tarde e dos domingos. Tamanha é a semelhança entre os estádios e as antigas arenas e a predileção do povo em frenquentá-los que já relacionaram este esporte ao circo romano. Mudaram o conteúdo e os atores, porém o sentido é o mesmo. Me anestesia os percalços da vida uma boa partida de futebol. O gol do meu time, da minha seleção. Torno-me vencedor, independente de qual fracassado sou e, assim, me revelo em 11 caras que mal conheço, mas que muito bem (ou mal) me representam. Já ligaram os jogos da seleção e suas vitórias a aumentos de combustível, ao amor pela pátria (Todos juntos vamos, prá frente Brasil, Brasil, salve a seleção). O fato é, quando o povo está feliz a nação caminha em paz.

O País não cresce, a educação está em pandarecos, a saúde idem, e o Peixe vai fazer mil gols. Lamento o fato de estamos tão preocupados com assunto tão significativo e importante para o nosso futuro que chego a desejar que alguém, algum dia, proíba a pática de futebol no país, tamanha as sua capacidade de alienação. A nossa situação chega as barras do riso. O México cresceu 5,5%, depois de anos de crescimento contínuo. Em 2005, enquanto o Brasil cresceu 2,3%, a Argentina alcançou 9,1%; a conturbada Venezuela, de Hugo Chávez, 9%; o Chile, mais de 6%; a República Dominicana, 7%; o Uruguai, 6%; o Peru, 6%; e o Panamá, 6%. Será que é hoje que o Peixe faz mil gols ?

A expressão “Meu Peixe” significa, em bom português, “Meu protegido”, “Digno da minha consideração” e ainda, no bom português, “Aquele animal que se tira do mar” e mais, como no caso das milhares de famílias atingidas pela contaminação da Baía de Todos os Santos, representa a manutenção de um frágil ecosistema sócioeconômico. O “Meu Peixe” dos estádios parece ter mais importância do que o “Meu Peixe” de todo dia, do prato da mesa e da barriga cheia. Nossa vida jamais será a mesma depois dos 1000 gols. O imperador está feliz, o povo está feliz! Somos dignos da admiração internacional por sermos brasileiros, raça apta para as atividades futebolísticas e capaz de subjulgar um goleiro mais de 1000 vezes. Que potência que somos!! Que futuro o que temos!!

Ah! Palavras, tantos louvores, tantos significados, subjetivando as nossas vidas e relativizando as nossas percepções!!!

Na Bahia de Todos os Santos o povo aguarda o laudo de um dos piores crimes ecológicos que se tem notícia “nesse País” para saber, afinal, o que foi que aconteceu ? Foi vazamento de um dos dutos da Dow Química (soda cáustica, ou outro tipo de ácido)? Foi vazamento de um dos dutos da Petrobrás ? Ou foi a maré vermelha ? Acho que o laudo final que traz esta última opção como sendo a mais provável, além de perverso, subestima a capacidade de análise de qualquer mesa de butequim. Acho que o problema é que a comunidade de pescadores desta região (ah! Os pobres! Sempre os pobres!) estão passando por uma “Maré de Azar”. Dizer que a Bahia de Todos os Santos está poluída ao ponto de propiciar a proliferação de algas capazes de asfixiar os peixes nos leva a crer que o projeto Bahia Azul, tão propalado pela administração anterior, era uma farsa. Será que é só isso ? Será que por tão pouco um vazamento criminoso ficará impune ? É, meus pobres pescadores, vocês estão fritos! Os peixes estão vingados! A propósito, é hoje que o Peixe faz mil gols ? A vitória dos peixes estará completa!

Em qualquer lugar do mundo, a uma hora destas, toda a comunidade científica estaria de prontidão para analisar este fato. A imprensa em massa. Cada urubú morto após comer peixe asfixiado deveria ser fotografado tal qual cada investida do Peixe para o gol. A platéia deveria aplaudir cada vez que alguém lúcido abrisse a boca para dizer que este laudo é um engodo. A arena deveria estar lotada de brasileiros desejosos por ver a natureza, tão propalada atualmente, ser protegida como merece. Mas, infelizmente, não é isso que acontece. Estamos preocupados com mil gols, com a vitória do brasileiro bom de bola. E, nada de bom acontece!

Nesta semana santa, todo o Brasil pergunta, “Peixe, cadê o seu Gol ?”. Na Bahia de Todos os Santos, milhares de pescadores perguntam, “ Senhores, cadê o meu Peixe?”. Parece que falta Peixe para tantas obrigações. Com polissemia ou sem polissemia, o que eu de fato desejo é que esta “Maré Vermelha”, que poluiu o Brasil nos últimos anos e que está matando as instituições de asfixia, passe logo, antes que morramos todos! Por hoje, ainda tenho que defender o meu peixe! Somente no final do dia vou pegar um gol de volta para casa.

sábado, 31 de março de 2007

O que é isso Matilde ?

O que é isso, Matilde?
Por André Petry na VEJA deste fim de semana:

"O governo Lula acaba de brindar a sociedade com mais uma pérola inesperada: descobriu-se que a ministra da Igualdade Racial, que vem a ser a maior autoridade oficial em questões raciais, não sabe o que é racismo. Ou, dito de outro modo, tem uma visão exoticamente peculiar sobre racismo. Em entrevista à BBC, por ocasião dos 200 anos da proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra, a ministra Matilde Ribeiro foi indagada se no Brasil, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também havia racismo de negro contra branco.
A ministra saiu-se com a declaração que há de lhe ficar encravada na biografia e merece ser reproduzida na íntegra: "Eu acho natural que tenha", começou a ministra, referindo-se ao racismo de negro contra branco no Brasil. "Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando a isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
Então, para ficar claro: a ministra da Igualdade Racial disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".
O mundo deveria ter desabado, mas nada aconteceu: a ministra continua solidamente no cargo. Pelo seu raciocínio, o racismo, esse crime inafiançável no Brasil mestiço e miscigenado, é uma discriminação de mão única. Se um negro hostiliza um branco não é uma coisa boa, mas é uma vingança compreensível pelo açoite de séculos – já branco hostilizando negro é racismo. Se um negro despreza um branco também não é uma coisa boa, mas ele estará expressando um repúdio natural a uma agressão histórica – e branco desprezando negro é racismo. Se um negro se insurge contra um branco é um desabafo compreensível, embora indesejável, diante da opressão. O contrário é racismo.
Em que categoria a ministra Matilde colocaria os descendentes daqueles negros que, uma vez livres, tornaram-se eles próprios donos de escravos igualmente negros? São negros contra os quais outros negros podem naturalmente se insurgir, embora isso não seja uma coisa boa? E em que categoria a ministra incluiria a imensa massa brasileira de pardos, filhos da miscigenação entre açoitados e açoitadores?
A visão da ministra Matilde sobre racismo é um descalabro monumental, mas, no fundo, dá para compreender. Porque tudo se integra perfeitamente no projeto racial do governo Lula. Com seus estatutos de igualdade racial escandalosamente discriminadores, com suas pesquisas raciais em escolas, com suas políticas de cotas raciais em universidades e no serviço público, o projeto do governo é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco.
Com todo o orgulho, claro".

quinta-feira, 29 de março de 2007

Eu vou prá maracutalha eu vou...

É uma quarta-feira, pela manhã, D. Euzefrina ainda cozinha o resto do inhame que sobrou da noite anterior, quando lhe ocorre que este não era somente único como o último exemplar disponível do tuberculo em sua casa e que, provavelmente, logo mais ao meio dia, quando seu Zé das Covas voltar da lida, não haverá nenhuma raspa de comida para aplacar a sua costumeira fome. Seo Zeco, como é chamado pelos amigos, veio para maracangalha desde os 8 anos de idade, junto com a sua família. Desde lá, sua unica missão na vida é trabalhar um parco pedaço de terra que lhe foi concedido pelo tempo, na esperança que Izaurina e Zefirino, seus dois filhos, tenham na vida melhor sorte que a sua.

Mal posso pensar nos olhos de D. Ezefrina perdidos no meio do matagal, como que admirando os restos dos primeiros raios de sol, prenuncio de mais um dia de dificuldade e trabalho, muito trabalho.

- Hoje vai ser um dia daqueles! – Pensa alto D. Ezefrina.

E a vida não muda!!! Passa, mas não muda!

Lá em Maracangalha, há uma D. Ezefrina em cada casebre pobre, em cada família digna que lá habita. Os habitantes desta pequena cidade próxima de Salvador, são humildes trabalhadores rurais, que vivem a sua vida e tiram o seu sustento da terra, a qual, junto com a previdência, se constuituem nas únicas formas de sustento para este povo. Eles fazem parte da população que prefere ir às ruas na hora do noticiário da TV para uma coversa com os amigos do que ficar assistindo televisão. Eles não acreditam em mensaleiros, até porque, como integrantes da população rural baiana, não lhes cabe entender de política. “São sempre os mesmos!!! – Isto tudo é intriga!!!”, e por aí vai.

Quando das eleições, os donos de Maracangalha entram em cena, negociam os votos do povo com os salvadores de Maracangalha e a cena se repete. Ricos mais ricos e pobres, mais pobres. E D. Ezaurina continua com a sua panela vazia.

Já faz algum tempo, apareceram algumas cabanas do movimento Sem Terra nas proximidades da cidade, indicando que, em breve, haverá terra para todos. Seu Zeca poderá, quem sabe, até ganhar um título de propriedade. Quem sabe, nada vai acontecer, afinal, para continuarem na luta, os Sem Terra, de forma a continuarem Sem Terra , justificando o movimento, quando recebem a terra, vendem. Mas isto é outra estória.

Mesmo com toda a costumeira simplicidade, a vida em Maracangalha é muito boa. Não tem as coisas da cidade grande. Assim pensava o poeta que, um dia, pensou em ir , para Maracangalha, sem a companheira e vestido de “liforme” branco. Quem sabe criar novos versos, quem sabe provar o tempero da Ezaurina. O fato é que, se ruim fosse, lá ele não iria.

D. Ezaurina, beira de um fogão vazio, apela para a sua fé e nela deposita todo o seu desejo de que aquela situação se resolva, rápido. Meu Pai do céu há de nos ajudar!!! Olhando para o infinito, D. Ezaurina jamais imagina que, hoje, sua vida vai mudar.

Perto das duas horas da tarde, barriga na costela, um som vem de lá do pasto. D. Ezaurina corre, seu Zeco corre, todo mundo corre. Um acidente terrivel acaba de acontecer na serra. Todos saem em disparada para o local e lá encontram 4 pessoas, infelizmente, mortas. Sem perceber, restos de um papel estranho ainda caem do céu, sem chamar muita atenção. De repente, alguem grita – É dinheiro!! Tá caindo dinheiro do Céu!!!. Foi aquela correria. Gente de todo lado, sem terra, com terra, avô, avó, tio, filho, gato, cachorro e periquito. Cada um pegou o seu. Dinheiro pro café e dois dias de almoço já tem.

O que eles não sabiam era que cometiam, neste momento, um ato criminoso de maiores proporções. Afinal, este dinheiro, se o avião tivesse pegado fogo, seria de responsabilidade do seguro, deveria ter um dono. Mas quem é? O dono é quem contratou a empresa para transportar ? É da empresa que transportou o dinheiro ? O dono é de quem achar primeiro ? ou o Dono é o primeiro que aparecer dizendo que é o dono ?. Na minha terra tem um ditado que diz que “achado não é roubado”. Sem querer justificar um saque, o avião não foi derrubado pelos habitantes famintos de Maracangalha. Eles se apoderaram de um dinheiro que, se nossa digna consciencia não nos deixar faltar, não era de ninguém. É amigos, ELES, parecem, não fariam!

Ao tratar os habitantes de Maracangalha como bandidos, ELES se esquecem de seus verdadeiros papeis e exercem os papeis a ELES confiados por um sistema bastante suspeito e que trata os desiguais como anormais, mesmo sendo estes maioria. Confiantes na falta de força deste povo, mostram toda a sua ignorancia, no sentido explicito da palavra, da lei. Condenam sem julgamento, sem atenuantes. Até os mais perigosos marginais do Brasil estão tendo perdão, ou isto não justifica os resultados das últimas eleições ? Por que não D. Euzarina ?

Ao deixar uma cidade ser assaltada por pessoas que agiram em nome proprio ou de terceiros devidamente habilitados para tal, o Estado se furta de uma de suas mais importantes funções, que é garantir a soberania e a tranquilidade da população. Por que não fizeram nada logo ? Por que deixaram a lei agir na ilegalidade ? Por que policiais a paisano ? por que? Por que? Porque eles são pobres ? porque roubar é privilégio de ricos? Que sujeira!! Que vergonha!!! É prá isso que esse povo é usado nas eleições? É pra isso que eles devem continuar pobres ?

Dizem que o dinheiro transforma. São 5 milhões irrigados sobre uma comunidade pobre. Que situação embaraçosa! Que coisa ruim! que coisa boa!. Um paradoxo que nos leva a refletir sobre a verdadeira alma do nosso povo. Ladrões ou necessitados ? Se suas casas fossem dotadas de muro alto e cerca elétrica, e se eles tivessem carro na garagem e conta no banco, será que o seu direito seria assim dilapidado ? Pobres dos Pobres em um pais de Podres Pobres ? Pobres de caráter, pobres de espirito, pobres de tudo! A única riqueza que sabemos repartir é a da sabedoria e a vilania, já que estas nos sobra em cada poro. Pobre de Maracangalha, vitima de tamanha maracutaia! Agora, eu que não quero ir lá! Nem pra provar do tempero de D. Ezaurina, afinal ela não está lá mesmo. Me mandou um postal lindo do Caribe. Que férias inesquecíveis!

E agora José ?

E Agora, José ?

Pensando bem, quem sou eu mesmo hein?

Fico aqui pensando no que nos transformamos e achando que os 500 anos que se passaram desde que os portugueses aqui chegaram não foram suficientes para dirimir a mais presente das dúvidas. Fomos descobertos ou fomos inventados? Alguns dizem que o acaso trouxe as naus portuguesas à nossa costa, outros que cientistas europeus resolveram criar, em um ambiente tropical, uma nova raça de humanos derivados dos índios, portugueses e dos africanos. Dos índios e africanos a acomodação de “status quo” e dos portugueses, aqueles selecionados a dedo, a desonestidade e a vilania. Da primeira tese surge o brasileiro, o mestiço, a miscigenação de raças e culturas; do segundo, surge o também brasileiro, da ginga, da malandragem, do jeitinho, que, aliás, também é brasileiro.

Com o tempo, o brasileiro inventado seqüestrou o seu parente mais natural e tornou-se o senhor das terras e das águas, o mais esperto, o que não leva desaforo para casa, o machão, o da maior vantagem. Inventou o carnaval, a festa, as mulatas, valorizou as bundas e as formas curvilíneas da mulher, também brasileira. Sublevou a cultura, a educação e recriou o paraíso, da fantasia, do sexo e do prazer. Subverteu até os mais elevados ditados, como aquele em que “o que se leva da vida é a vida que se leva” para “a vida que se leva é o que se leva na vida”. Muito criativo, inventou o samba, a cachaça, a feijoada e a caipirinha, tudo para acompanhar as mulatas, suas curvas e bundas, estas aliás, ótimas.

Como posso pensar em ser brasileiro sem o estigma de uma raça criada, forjada pelos céus e submetida aos caprichos do destino de que somos predestinados ao fracasso, de que fomos criados para não dar certo. Só podia dar nisso! Português, índio e africano juntos!. Ficamos com o pior dos melhores lutando todos os dias para nos afirmar como o melhor dentre os piores. Afinal, 500 anos não é tanto tempo assim.

Pensar em destino de um povo apenas pela sua gênese, é como ler as mãos e traçar o destino. Nascemos com os traços que nos determinarão a nossa sorte. Para mudar a sorte, temos que mudar as mãos. Para mudar o destino, temos que deixar de ser brasileiros. Quem sabe, americanos, canadenses, ou até, novamente, europeus? Quem sabe se retornarmos à máquina que nos criou possamos mudar o que nos tornamos? Infelizmente José, por mais que andemos, por mais que fujamos, seremos sempre brasileiros. O nosso estigma nos perseguirá, para sempre. E agora?

Então, ficar! Assumir a nossa brasilidade. Afinal, o jeitinho, a caipirinha e as mulatas não são tão ruins assim.

Em 5 séculos, podemos parar um pouco para pensar. Se preguiça não é genética, se a falta de caráter não é genética, por que então, raios, ainda não mudamos isto? Será que a desculpa de que somos predestinados ao fracasso faça doer menos o nosso fracasso enquanto povo? Será que o fato de transferirmos para outros o nosso destino nos deixe mais confortáveis para tomar aquela cervejinha sem culpa, enquanto temos tanto por fazer por este enorme pedaço de terra que nos deram de presente? É José, você está em maus lençóis. Parece que esta desculpa não funciona. Ao nos escondermos sob o manto da mediocridade, corremos o risco de estarmos assumindo o papel dos degredados, anulando o papel de todo este tempo de vida na seleção natural de nosso povo, no aprimoramento da nossa raça. Ao assumir que “já que é assim há 500 anos por que é que eu vou mudar?”, estamos perdendo um tempo precioso para construir uma verdadeira nação.

E o governo? Por que é que não faz nada? Aí José, o buraco é mais em baixo. Junto com os degredados, recebemos a noção de que a salvação vem por um único portão, o qual é guardado por um único homem, o qual obedece às leis de outro, este o manda chuva de todo o céu e da terra. Assim aprendemos que um Homem, com H maiúsculo, sempre mandará em nossas vidas, fazendo desnecessário qualquer esforço para mudar a ordem das coisas. Aprendemos a personificar este processo, deixando para o santo governo os destinos das nossas vidas. Se estamos nos tornando dia-a-dia mais desonestos, é porque no governo só tem ladrão. Se estamos emburrecendo a olhos vistos, é porque o governo não investe em educação. Se estamos nos submetendo ao subemprego, é porque o governo não gera empregos; se estamos ficando mais violentos é porque não se investe em segurança. É josé, assim fica difícil!. Mais uma vez, alguém tem que ser culpado pelo nosso fracasso. Chego a pensar que ser brasileiro não é cidadania, é karma.

A notícia ruim é que nada disso é verdade. Só você José pode mudar o seu destino. Ninguém vai fazer isto por você!

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? Que tal tirar esta bunda da cadeira e começar a mudar o mundo?. Ninguém mais, só você! Tenho certeza xará que não somos o que pensamos que somos e que podemos o que achamos que não podemos. Mudaremos este país, tornando-o um lugar decente e digno de nós e de nossos filhos. Faremos isto José, se Deus quiser! (Ops!).