sexta-feira, 6 de abril de 2007

O luta do peixe e a busca pelo milésimo Gol

Dizem por ai que o português é uma lingua dificil. Também não é para menos. Uma mesma palavra pode significar mil coisas e, as suas diversas combinações, mais mil. É tanta confusão que o entendimento do sentido correto só é possível com o conhecimento prévio dos fatos, personagens e história pregressa. Neste tom, vamos esclarecer algumas coisas. Quando falamos, por exemplo, “João ficou sem manga”, podemos estar falando de alguem que perdeu as frutas, o pasto ou partes da sua camisa, sem falar em partes de um motor e coisa e tal. Para entender a frase, temos que conhecer João, sua história, para depois sabermos de qual manga estamos falando.

Algum desavisado pode falar que isto é comum, e de fato é. Em outras línguas acontece a mesma coisa. Tal fenômeno chama-se polissemia (de poli = muitos; semia = significado). Aprender a lidar com os diversos significados talvez nos ajude a entender fatos contemporâneos representados pelos mesmos signos mas com resultados totalmente diferentes.

Somos o país do futebol e disso temos que nos orgulhar, afinal não é a toa que nas conversas de botequim seja este o tema preponderante. Em cada terreno plano nasce um potencial campo de futebol, pronto para as peladas de final de tarde e dos domingos. Tamanha é a semelhança entre os estádios e as antigas arenas e a predileção do povo em frenquentá-los que já relacionaram este esporte ao circo romano. Mudaram o conteúdo e os atores, porém o sentido é o mesmo. Me anestesia os percalços da vida uma boa partida de futebol. O gol do meu time, da minha seleção. Torno-me vencedor, independente de qual fracassado sou e, assim, me revelo em 11 caras que mal conheço, mas que muito bem (ou mal) me representam. Já ligaram os jogos da seleção e suas vitórias a aumentos de combustível, ao amor pela pátria (Todos juntos vamos, prá frente Brasil, Brasil, salve a seleção). O fato é, quando o povo está feliz a nação caminha em paz.

O País não cresce, a educação está em pandarecos, a saúde idem, e o Peixe vai fazer mil gols. Lamento o fato de estamos tão preocupados com assunto tão significativo e importante para o nosso futuro que chego a desejar que alguém, algum dia, proíba a pática de futebol no país, tamanha as sua capacidade de alienação. A nossa situação chega as barras do riso. O México cresceu 5,5%, depois de anos de crescimento contínuo. Em 2005, enquanto o Brasil cresceu 2,3%, a Argentina alcançou 9,1%; a conturbada Venezuela, de Hugo Chávez, 9%; o Chile, mais de 6%; a República Dominicana, 7%; o Uruguai, 6%; o Peru, 6%; e o Panamá, 6%. Será que é hoje que o Peixe faz mil gols ?

A expressão “Meu Peixe” significa, em bom português, “Meu protegido”, “Digno da minha consideração” e ainda, no bom português, “Aquele animal que se tira do mar” e mais, como no caso das milhares de famílias atingidas pela contaminação da Baía de Todos os Santos, representa a manutenção de um frágil ecosistema sócioeconômico. O “Meu Peixe” dos estádios parece ter mais importância do que o “Meu Peixe” de todo dia, do prato da mesa e da barriga cheia. Nossa vida jamais será a mesma depois dos 1000 gols. O imperador está feliz, o povo está feliz! Somos dignos da admiração internacional por sermos brasileiros, raça apta para as atividades futebolísticas e capaz de subjulgar um goleiro mais de 1000 vezes. Que potência que somos!! Que futuro o que temos!!

Ah! Palavras, tantos louvores, tantos significados, subjetivando as nossas vidas e relativizando as nossas percepções!!!

Na Bahia de Todos os Santos o povo aguarda o laudo de um dos piores crimes ecológicos que se tem notícia “nesse País” para saber, afinal, o que foi que aconteceu ? Foi vazamento de um dos dutos da Dow Química (soda cáustica, ou outro tipo de ácido)? Foi vazamento de um dos dutos da Petrobrás ? Ou foi a maré vermelha ? Acho que o laudo final que traz esta última opção como sendo a mais provável, além de perverso, subestima a capacidade de análise de qualquer mesa de butequim. Acho que o problema é que a comunidade de pescadores desta região (ah! Os pobres! Sempre os pobres!) estão passando por uma “Maré de Azar”. Dizer que a Bahia de Todos os Santos está poluída ao ponto de propiciar a proliferação de algas capazes de asfixiar os peixes nos leva a crer que o projeto Bahia Azul, tão propalado pela administração anterior, era uma farsa. Será que é só isso ? Será que por tão pouco um vazamento criminoso ficará impune ? É, meus pobres pescadores, vocês estão fritos! Os peixes estão vingados! A propósito, é hoje que o Peixe faz mil gols ? A vitória dos peixes estará completa!

Em qualquer lugar do mundo, a uma hora destas, toda a comunidade científica estaria de prontidão para analisar este fato. A imprensa em massa. Cada urubú morto após comer peixe asfixiado deveria ser fotografado tal qual cada investida do Peixe para o gol. A platéia deveria aplaudir cada vez que alguém lúcido abrisse a boca para dizer que este laudo é um engodo. A arena deveria estar lotada de brasileiros desejosos por ver a natureza, tão propalada atualmente, ser protegida como merece. Mas, infelizmente, não é isso que acontece. Estamos preocupados com mil gols, com a vitória do brasileiro bom de bola. E, nada de bom acontece!

Nesta semana santa, todo o Brasil pergunta, “Peixe, cadê o seu Gol ?”. Na Bahia de Todos os Santos, milhares de pescadores perguntam, “ Senhores, cadê o meu Peixe?”. Parece que falta Peixe para tantas obrigações. Com polissemia ou sem polissemia, o que eu de fato desejo é que esta “Maré Vermelha”, que poluiu o Brasil nos últimos anos e que está matando as instituições de asfixia, passe logo, antes que morramos todos! Por hoje, ainda tenho que defender o meu peixe! Somente no final do dia vou pegar um gol de volta para casa.

3 comentários:

Fernando Wellington disse...

SERÁ QUE VALE A PENA SABER MESMO?

Se alguem, eu, voce ou qualquer outra pessoa, tivesse saco ou paciencia para dissecar um pouco mais essa estória do Peixe ou do Gol 1.000, logo, logo iria perceber achar-se à frente de um manancial de assuntos e razões capazes de garantir o preenchimento, não tão somente de algumas paginas, mas de verdadeiros compendios. Pegunte isto ao espirito de um Stanilaw Ponte Preta ou, para ser mais coerente, aos contemporaneos Millor Fernandes, Verissimo, João Ubaldo Ribeiro e mais uns dois ou três que não se alienaram totalmente e eles lhe darão a resposta na ponta da lingua: o Brasil não é um país sério. E o pior de tudo isto é que uma meia duzia de salafrários já se aperceberam tanto dessa realidade que, agora, convenhamos, está duro dar uma brecada nessa canalhice. No curso da minha vida, tive o desprazer de aprender e aceitar alguns principios definlitivamente imutáveis. Um deles, "Na politica brasileira, mudam apenas as moscas... a merda continua a mesma." Ou estoutra, de igual profundidade: "Na politica brasileira, mudam apenas as coleiras. Os cachorros continuam os mesmos. Certa ocasião, encontrei alguém que me ensinou essa preciosidade: "A lei brasileira é como um boneco de cera: o nariz dele a gente coloca para o lado que a gente quiser." Os nossos títeres são, nada mais, nada menos, que os da Roma antiga. com a pequena e unica diferença de que refinamos a técnica ao criarmos a figura do "factóide". A opinião pública ou algum mais letrado está incomodando? Crie-se o factóide e logo tudo estará resolvido. Imbecil para engolir a "gaiva" não faltará. Assim, dentro do menor espaço de tempo possivel, a artimanha criará foros de razão e pronto. Infeliz de quem se oponha. Desde os primordios, a vida da nação Brasil sempre foi, é e continuará sendo por dois rebotalhos:a casta dos mandões, letrados ou não, e a borra de cidadãos de segunda categoria, tambem legtrados ou não, mas sempre afeiçoados à canga que os traz sempre adestrados. Veja, por exemplo, os seguintes retalhos da vida politico-partidária: até o primeiro trimestre de 1963; existiam apenas 03 partidos, 02 de peso politico quase igual: PTB e PSD, e um terceiro, com escancarada vocação para sparring: a UDN. Com o advento da "milagrosa", esse sparring assume a forma de partido unico até o dia em que alguem (mais lúcido? p.q.p)advertiu-os de que, melhor seria mascará-los. Surgiram, então, a ARENA e o MDB, em que este ultimo apenas fazia de conta ser um partido. Destroçada a "Bastilha", o que restou? Um esqálido bi-partidarismo, reunindo, de um lado, os que estavem "mamando". Do outro, os que queriam mamar". Por algum tempo, repetiu-se a formula: nós mamos hoje. Eles, amanhã. Claro que tal formula não agradava nem a gregos, nem a troianos. O "paraiso" corria risco e, porisso,necessário se fazia o apelo ao "Anjo Gabriel", com o fito de expulsar desse "Eden", de uma vez por todas, os insurretos. Pronto. A solução chegara, posto que, agora,com aquilo que, atualmente, costuma chamar-se de "transparencia", de um lado, encontravam-se os "bandidos" de sempre, que roubavam, a bom roubar, mas sempre utilizando-se da fórmula comum com que sempre se cevaram. Do outro... ah, do outro, aqueles a quem até a palavra corrupção provocava pruridos incomodaticios. Desse modo, até quem nunca ouvira falar da estoria de ALI BABA e seus 40 "companhero", passou a testemunhar a arte finoria do roubar com "transparença" e "elegança". Ou seja, a afecção aflorou de maneira muito mais grave, principalmente quando perceberam que "em cima" deles, nem sereno caia. Mala, cueca, aviões, barcos, de um momengto para outro viraram "sézamos" priv ilegiados. E o que é pior: ai de quem sequer suspeitar de alguma desta vestais. Celso Daniel, Toninho do PT, Neilton e quantos outros menos votados não deram ensejo à revoada de abutres? Qque diferença deste proceder para o proceder da poderosissima Camorra, que, como dizia aquele personagem do Jô Soares, não ousou, sequer, vir para o Brasil, sob pena de tambem ela ser sumariamente avacalhada? Vê-se, agora, quão temerários foram aqueles imprudentes urubus, que doaram suas vidas apenas para demonstrar que as marés da Bahia de Todos os Santos não matam apenas os que se banham em suas águas. Matam tambem aqueles que ousam contrariar a máxima da laranja madura na beira da estrada ou aqueloutra que de esmola grande até pobre desconfia. Urubu morre de tiro, pedrada, atropelo. De peixe, no entanto, só morre se o "dito cujo" estiver envenenado. De alga? Vade retro. De tudo isto, no entanto, resta uma lição para quem vive correndo atrás de gol 1000, notadamente para as torcidas do Flamengo ou do Vitória; o preto do urubu não combinha com o vermelho do PT.

Nelson Góes disse...

A essa altura do baba, o que tem de mensaleiros e mensalistas correndo atrás de um laudo, essa tal de "maré vermelha" pode ser uma boa justificativa, isso aí, bem explicado, pode render uma boa grana extra...
"Ôh minino!", cadê o Badan?...

Sem querer, eles deram à maré uma cor que diz muito da atual realidade do brasileiro...
O vermelho, escolhido para ser a cor da maré criminosa, é também a cor da nossa maior carência hoje em dia: Sem dúvidas, precisamos "VER MELHÓ"...

camilotelles disse...

Ficando bom o negócio aqui nesta casa! Parabens Paulo.

Camilo