quinta-feira, 29 de março de 2007

E agora José ?

E Agora, José ?

Pensando bem, quem sou eu mesmo hein?

Fico aqui pensando no que nos transformamos e achando que os 500 anos que se passaram desde que os portugueses aqui chegaram não foram suficientes para dirimir a mais presente das dúvidas. Fomos descobertos ou fomos inventados? Alguns dizem que o acaso trouxe as naus portuguesas à nossa costa, outros que cientistas europeus resolveram criar, em um ambiente tropical, uma nova raça de humanos derivados dos índios, portugueses e dos africanos. Dos índios e africanos a acomodação de “status quo” e dos portugueses, aqueles selecionados a dedo, a desonestidade e a vilania. Da primeira tese surge o brasileiro, o mestiço, a miscigenação de raças e culturas; do segundo, surge o também brasileiro, da ginga, da malandragem, do jeitinho, que, aliás, também é brasileiro.

Com o tempo, o brasileiro inventado seqüestrou o seu parente mais natural e tornou-se o senhor das terras e das águas, o mais esperto, o que não leva desaforo para casa, o machão, o da maior vantagem. Inventou o carnaval, a festa, as mulatas, valorizou as bundas e as formas curvilíneas da mulher, também brasileira. Sublevou a cultura, a educação e recriou o paraíso, da fantasia, do sexo e do prazer. Subverteu até os mais elevados ditados, como aquele em que “o que se leva da vida é a vida que se leva” para “a vida que se leva é o que se leva na vida”. Muito criativo, inventou o samba, a cachaça, a feijoada e a caipirinha, tudo para acompanhar as mulatas, suas curvas e bundas, estas aliás, ótimas.

Como posso pensar em ser brasileiro sem o estigma de uma raça criada, forjada pelos céus e submetida aos caprichos do destino de que somos predestinados ao fracasso, de que fomos criados para não dar certo. Só podia dar nisso! Português, índio e africano juntos!. Ficamos com o pior dos melhores lutando todos os dias para nos afirmar como o melhor dentre os piores. Afinal, 500 anos não é tanto tempo assim.

Pensar em destino de um povo apenas pela sua gênese, é como ler as mãos e traçar o destino. Nascemos com os traços que nos determinarão a nossa sorte. Para mudar a sorte, temos que mudar as mãos. Para mudar o destino, temos que deixar de ser brasileiros. Quem sabe, americanos, canadenses, ou até, novamente, europeus? Quem sabe se retornarmos à máquina que nos criou possamos mudar o que nos tornamos? Infelizmente José, por mais que andemos, por mais que fujamos, seremos sempre brasileiros. O nosso estigma nos perseguirá, para sempre. E agora?

Então, ficar! Assumir a nossa brasilidade. Afinal, o jeitinho, a caipirinha e as mulatas não são tão ruins assim.

Em 5 séculos, podemos parar um pouco para pensar. Se preguiça não é genética, se a falta de caráter não é genética, por que então, raios, ainda não mudamos isto? Será que a desculpa de que somos predestinados ao fracasso faça doer menos o nosso fracasso enquanto povo? Será que o fato de transferirmos para outros o nosso destino nos deixe mais confortáveis para tomar aquela cervejinha sem culpa, enquanto temos tanto por fazer por este enorme pedaço de terra que nos deram de presente? É José, você está em maus lençóis. Parece que esta desculpa não funciona. Ao nos escondermos sob o manto da mediocridade, corremos o risco de estarmos assumindo o papel dos degredados, anulando o papel de todo este tempo de vida na seleção natural de nosso povo, no aprimoramento da nossa raça. Ao assumir que “já que é assim há 500 anos por que é que eu vou mudar?”, estamos perdendo um tempo precioso para construir uma verdadeira nação.

E o governo? Por que é que não faz nada? Aí José, o buraco é mais em baixo. Junto com os degredados, recebemos a noção de que a salvação vem por um único portão, o qual é guardado por um único homem, o qual obedece às leis de outro, este o manda chuva de todo o céu e da terra. Assim aprendemos que um Homem, com H maiúsculo, sempre mandará em nossas vidas, fazendo desnecessário qualquer esforço para mudar a ordem das coisas. Aprendemos a personificar este processo, deixando para o santo governo os destinos das nossas vidas. Se estamos nos tornando dia-a-dia mais desonestos, é porque no governo só tem ladrão. Se estamos emburrecendo a olhos vistos, é porque o governo não investe em educação. Se estamos nos submetendo ao subemprego, é porque o governo não gera empregos; se estamos ficando mais violentos é porque não se investe em segurança. É josé, assim fica difícil!. Mais uma vez, alguém tem que ser culpado pelo nosso fracasso. Chego a pensar que ser brasileiro não é cidadania, é karma.

A notícia ruim é que nada disso é verdade. Só você José pode mudar o seu destino. Ninguém vai fazer isto por você!

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? Que tal tirar esta bunda da cadeira e começar a mudar o mundo?. Ninguém mais, só você! Tenho certeza xará que não somos o que pensamos que somos e que podemos o que achamos que não podemos. Mudaremos este país, tornando-o um lugar decente e digno de nós e de nossos filhos. Faremos isto José, se Deus quiser! (Ops!).

Um comentário:

Nelson Góes disse...

De Blog – 002
De Seu José



Dinho:

É um perigo, se Você continuar a escrever dessa forma, entre um apagão e outro, daqui a pouco vai todo mundo estar torcendo para que a crise se amplie...
O que, aliás, é a tendência!...

Triste Brasil, em que as pessoas trocaram a opção de progresso por um prato de comida...
Vai ver, até, com cuspe dentro!...

Foi disso que Você quis falar quando citou os portugueses escolhidos "a dedo"?...
Dos COM e dos SEM?...
SEM TERRA, SEM TETO, SEM DEDO?...
SEM ESCRÚPULOS?...

Triste Brasil, paiszinho de quinta categoria, inserido no terceiro mundo!...
É isso que é PROGRESSO?...

E a ORDEM, vem de onde?...
Vem sempre lá de cima?...

As estradas brasileiras estão hoje, na sua totalidade, cercadas pelos ditos Sem Terra...
Serão uns pobres coitados, procurando um abrigo, para suprir as deficiências que as cidades lhes impõem?...

Ou são apenas servos, aguardando a ordem do Terrorista-Mór, de bloquear as estradas, quando o companheiro Lula começar a cair nas pesquisas?...
Até quando estaremos assistindo passivamente a essa desordem tão bem orquestrada?

Perguntar a quem, ao José do seu texto?...

Na verdade, antes, preciso saber de quem estou falando...
Pois agora me ocorre uma dúvida:
Qual é o correto dizer, falando do Zé do seu texto...

Zé do seu?...
Ou,
Zé de seu?...

É, acho que não precisamos ser nenhum Pasquale Neto para saber que “Zé de seu” não é correto!...

É uma pena, Dinho!...
E, mais triste ainda, pensar que é esse o legado que estamos deixando para nossos filhos!...
Parabéns!... Você foi muito feliz na escolha do tema, e na maneira como extravasou seus sentimentos!...
Continue assim!...

Beijos,
Dinho



Aracaju, 31 de março de 2007
Nelson Góes