sábado, 31 de março de 2007

O que é isso Matilde ?

O que é isso, Matilde?
Por André Petry na VEJA deste fim de semana:

"O governo Lula acaba de brindar a sociedade com mais uma pérola inesperada: descobriu-se que a ministra da Igualdade Racial, que vem a ser a maior autoridade oficial em questões raciais, não sabe o que é racismo. Ou, dito de outro modo, tem uma visão exoticamente peculiar sobre racismo. Em entrevista à BBC, por ocasião dos 200 anos da proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra, a ministra Matilde Ribeiro foi indagada se no Brasil, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também havia racismo de negro contra branco.
A ministra saiu-se com a declaração que há de lhe ficar encravada na biografia e merece ser reproduzida na íntegra: "Eu acho natural que tenha", começou a ministra, referindo-se ao racismo de negro contra branco no Brasil. "Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando a isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
Então, para ficar claro: a ministra da Igualdade Racial disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".
O mundo deveria ter desabado, mas nada aconteceu: a ministra continua solidamente no cargo. Pelo seu raciocínio, o racismo, esse crime inafiançável no Brasil mestiço e miscigenado, é uma discriminação de mão única. Se um negro hostiliza um branco não é uma coisa boa, mas é uma vingança compreensível pelo açoite de séculos – já branco hostilizando negro é racismo. Se um negro despreza um branco também não é uma coisa boa, mas ele estará expressando um repúdio natural a uma agressão histórica – e branco desprezando negro é racismo. Se um negro se insurge contra um branco é um desabafo compreensível, embora indesejável, diante da opressão. O contrário é racismo.
Em que categoria a ministra Matilde colocaria os descendentes daqueles negros que, uma vez livres, tornaram-se eles próprios donos de escravos igualmente negros? São negros contra os quais outros negros podem naturalmente se insurgir, embora isso não seja uma coisa boa? E em que categoria a ministra incluiria a imensa massa brasileira de pardos, filhos da miscigenação entre açoitados e açoitadores?
A visão da ministra Matilde sobre racismo é um descalabro monumental, mas, no fundo, dá para compreender. Porque tudo se integra perfeitamente no projeto racial do governo Lula. Com seus estatutos de igualdade racial escandalosamente discriminadores, com suas pesquisas raciais em escolas, com suas políticas de cotas raciais em universidades e no serviço público, o projeto do governo é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco.
Com todo o orgulho, claro".

quinta-feira, 29 de março de 2007

Eu vou prá maracutalha eu vou...

É uma quarta-feira, pela manhã, D. Euzefrina ainda cozinha o resto do inhame que sobrou da noite anterior, quando lhe ocorre que este não era somente único como o último exemplar disponível do tuberculo em sua casa e que, provavelmente, logo mais ao meio dia, quando seu Zé das Covas voltar da lida, não haverá nenhuma raspa de comida para aplacar a sua costumeira fome. Seo Zeco, como é chamado pelos amigos, veio para maracangalha desde os 8 anos de idade, junto com a sua família. Desde lá, sua unica missão na vida é trabalhar um parco pedaço de terra que lhe foi concedido pelo tempo, na esperança que Izaurina e Zefirino, seus dois filhos, tenham na vida melhor sorte que a sua.

Mal posso pensar nos olhos de D. Ezefrina perdidos no meio do matagal, como que admirando os restos dos primeiros raios de sol, prenuncio de mais um dia de dificuldade e trabalho, muito trabalho.

- Hoje vai ser um dia daqueles! – Pensa alto D. Ezefrina.

E a vida não muda!!! Passa, mas não muda!

Lá em Maracangalha, há uma D. Ezefrina em cada casebre pobre, em cada família digna que lá habita. Os habitantes desta pequena cidade próxima de Salvador, são humildes trabalhadores rurais, que vivem a sua vida e tiram o seu sustento da terra, a qual, junto com a previdência, se constuituem nas únicas formas de sustento para este povo. Eles fazem parte da população que prefere ir às ruas na hora do noticiário da TV para uma coversa com os amigos do que ficar assistindo televisão. Eles não acreditam em mensaleiros, até porque, como integrantes da população rural baiana, não lhes cabe entender de política. “São sempre os mesmos!!! – Isto tudo é intriga!!!”, e por aí vai.

Quando das eleições, os donos de Maracangalha entram em cena, negociam os votos do povo com os salvadores de Maracangalha e a cena se repete. Ricos mais ricos e pobres, mais pobres. E D. Ezaurina continua com a sua panela vazia.

Já faz algum tempo, apareceram algumas cabanas do movimento Sem Terra nas proximidades da cidade, indicando que, em breve, haverá terra para todos. Seu Zeca poderá, quem sabe, até ganhar um título de propriedade. Quem sabe, nada vai acontecer, afinal, para continuarem na luta, os Sem Terra, de forma a continuarem Sem Terra , justificando o movimento, quando recebem a terra, vendem. Mas isto é outra estória.

Mesmo com toda a costumeira simplicidade, a vida em Maracangalha é muito boa. Não tem as coisas da cidade grande. Assim pensava o poeta que, um dia, pensou em ir , para Maracangalha, sem a companheira e vestido de “liforme” branco. Quem sabe criar novos versos, quem sabe provar o tempero da Ezaurina. O fato é que, se ruim fosse, lá ele não iria.

D. Ezaurina, beira de um fogão vazio, apela para a sua fé e nela deposita todo o seu desejo de que aquela situação se resolva, rápido. Meu Pai do céu há de nos ajudar!!! Olhando para o infinito, D. Ezaurina jamais imagina que, hoje, sua vida vai mudar.

Perto das duas horas da tarde, barriga na costela, um som vem de lá do pasto. D. Ezaurina corre, seu Zeco corre, todo mundo corre. Um acidente terrivel acaba de acontecer na serra. Todos saem em disparada para o local e lá encontram 4 pessoas, infelizmente, mortas. Sem perceber, restos de um papel estranho ainda caem do céu, sem chamar muita atenção. De repente, alguem grita – É dinheiro!! Tá caindo dinheiro do Céu!!!. Foi aquela correria. Gente de todo lado, sem terra, com terra, avô, avó, tio, filho, gato, cachorro e periquito. Cada um pegou o seu. Dinheiro pro café e dois dias de almoço já tem.

O que eles não sabiam era que cometiam, neste momento, um ato criminoso de maiores proporções. Afinal, este dinheiro, se o avião tivesse pegado fogo, seria de responsabilidade do seguro, deveria ter um dono. Mas quem é? O dono é quem contratou a empresa para transportar ? É da empresa que transportou o dinheiro ? O dono é de quem achar primeiro ? ou o Dono é o primeiro que aparecer dizendo que é o dono ?. Na minha terra tem um ditado que diz que “achado não é roubado”. Sem querer justificar um saque, o avião não foi derrubado pelos habitantes famintos de Maracangalha. Eles se apoderaram de um dinheiro que, se nossa digna consciencia não nos deixar faltar, não era de ninguém. É amigos, ELES, parecem, não fariam!

Ao tratar os habitantes de Maracangalha como bandidos, ELES se esquecem de seus verdadeiros papeis e exercem os papeis a ELES confiados por um sistema bastante suspeito e que trata os desiguais como anormais, mesmo sendo estes maioria. Confiantes na falta de força deste povo, mostram toda a sua ignorancia, no sentido explicito da palavra, da lei. Condenam sem julgamento, sem atenuantes. Até os mais perigosos marginais do Brasil estão tendo perdão, ou isto não justifica os resultados das últimas eleições ? Por que não D. Euzarina ?

Ao deixar uma cidade ser assaltada por pessoas que agiram em nome proprio ou de terceiros devidamente habilitados para tal, o Estado se furta de uma de suas mais importantes funções, que é garantir a soberania e a tranquilidade da população. Por que não fizeram nada logo ? Por que deixaram a lei agir na ilegalidade ? Por que policiais a paisano ? por que? Por que? Porque eles são pobres ? porque roubar é privilégio de ricos? Que sujeira!! Que vergonha!!! É prá isso que esse povo é usado nas eleições? É pra isso que eles devem continuar pobres ?

Dizem que o dinheiro transforma. São 5 milhões irrigados sobre uma comunidade pobre. Que situação embaraçosa! Que coisa ruim! que coisa boa!. Um paradoxo que nos leva a refletir sobre a verdadeira alma do nosso povo. Ladrões ou necessitados ? Se suas casas fossem dotadas de muro alto e cerca elétrica, e se eles tivessem carro na garagem e conta no banco, será que o seu direito seria assim dilapidado ? Pobres dos Pobres em um pais de Podres Pobres ? Pobres de caráter, pobres de espirito, pobres de tudo! A única riqueza que sabemos repartir é a da sabedoria e a vilania, já que estas nos sobra em cada poro. Pobre de Maracangalha, vitima de tamanha maracutaia! Agora, eu que não quero ir lá! Nem pra provar do tempero de D. Ezaurina, afinal ela não está lá mesmo. Me mandou um postal lindo do Caribe. Que férias inesquecíveis!

E agora José ?

E Agora, José ?

Pensando bem, quem sou eu mesmo hein?

Fico aqui pensando no que nos transformamos e achando que os 500 anos que se passaram desde que os portugueses aqui chegaram não foram suficientes para dirimir a mais presente das dúvidas. Fomos descobertos ou fomos inventados? Alguns dizem que o acaso trouxe as naus portuguesas à nossa costa, outros que cientistas europeus resolveram criar, em um ambiente tropical, uma nova raça de humanos derivados dos índios, portugueses e dos africanos. Dos índios e africanos a acomodação de “status quo” e dos portugueses, aqueles selecionados a dedo, a desonestidade e a vilania. Da primeira tese surge o brasileiro, o mestiço, a miscigenação de raças e culturas; do segundo, surge o também brasileiro, da ginga, da malandragem, do jeitinho, que, aliás, também é brasileiro.

Com o tempo, o brasileiro inventado seqüestrou o seu parente mais natural e tornou-se o senhor das terras e das águas, o mais esperto, o que não leva desaforo para casa, o machão, o da maior vantagem. Inventou o carnaval, a festa, as mulatas, valorizou as bundas e as formas curvilíneas da mulher, também brasileira. Sublevou a cultura, a educação e recriou o paraíso, da fantasia, do sexo e do prazer. Subverteu até os mais elevados ditados, como aquele em que “o que se leva da vida é a vida que se leva” para “a vida que se leva é o que se leva na vida”. Muito criativo, inventou o samba, a cachaça, a feijoada e a caipirinha, tudo para acompanhar as mulatas, suas curvas e bundas, estas aliás, ótimas.

Como posso pensar em ser brasileiro sem o estigma de uma raça criada, forjada pelos céus e submetida aos caprichos do destino de que somos predestinados ao fracasso, de que fomos criados para não dar certo. Só podia dar nisso! Português, índio e africano juntos!. Ficamos com o pior dos melhores lutando todos os dias para nos afirmar como o melhor dentre os piores. Afinal, 500 anos não é tanto tempo assim.

Pensar em destino de um povo apenas pela sua gênese, é como ler as mãos e traçar o destino. Nascemos com os traços que nos determinarão a nossa sorte. Para mudar a sorte, temos que mudar as mãos. Para mudar o destino, temos que deixar de ser brasileiros. Quem sabe, americanos, canadenses, ou até, novamente, europeus? Quem sabe se retornarmos à máquina que nos criou possamos mudar o que nos tornamos? Infelizmente José, por mais que andemos, por mais que fujamos, seremos sempre brasileiros. O nosso estigma nos perseguirá, para sempre. E agora?

Então, ficar! Assumir a nossa brasilidade. Afinal, o jeitinho, a caipirinha e as mulatas não são tão ruins assim.

Em 5 séculos, podemos parar um pouco para pensar. Se preguiça não é genética, se a falta de caráter não é genética, por que então, raios, ainda não mudamos isto? Será que a desculpa de que somos predestinados ao fracasso faça doer menos o nosso fracasso enquanto povo? Será que o fato de transferirmos para outros o nosso destino nos deixe mais confortáveis para tomar aquela cervejinha sem culpa, enquanto temos tanto por fazer por este enorme pedaço de terra que nos deram de presente? É José, você está em maus lençóis. Parece que esta desculpa não funciona. Ao nos escondermos sob o manto da mediocridade, corremos o risco de estarmos assumindo o papel dos degredados, anulando o papel de todo este tempo de vida na seleção natural de nosso povo, no aprimoramento da nossa raça. Ao assumir que “já que é assim há 500 anos por que é que eu vou mudar?”, estamos perdendo um tempo precioso para construir uma verdadeira nação.

E o governo? Por que é que não faz nada? Aí José, o buraco é mais em baixo. Junto com os degredados, recebemos a noção de que a salvação vem por um único portão, o qual é guardado por um único homem, o qual obedece às leis de outro, este o manda chuva de todo o céu e da terra. Assim aprendemos que um Homem, com H maiúsculo, sempre mandará em nossas vidas, fazendo desnecessário qualquer esforço para mudar a ordem das coisas. Aprendemos a personificar este processo, deixando para o santo governo os destinos das nossas vidas. Se estamos nos tornando dia-a-dia mais desonestos, é porque no governo só tem ladrão. Se estamos emburrecendo a olhos vistos, é porque o governo não investe em educação. Se estamos nos submetendo ao subemprego, é porque o governo não gera empregos; se estamos ficando mais violentos é porque não se investe em segurança. É josé, assim fica difícil!. Mais uma vez, alguém tem que ser culpado pelo nosso fracasso. Chego a pensar que ser brasileiro não é cidadania, é karma.

A notícia ruim é que nada disso é verdade. Só você José pode mudar o seu destino. Ninguém vai fazer isto por você!

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? Que tal tirar esta bunda da cadeira e começar a mudar o mundo?. Ninguém mais, só você! Tenho certeza xará que não somos o que pensamos que somos e que podemos o que achamos que não podemos. Mudaremos este país, tornando-o um lugar decente e digno de nós e de nossos filhos. Faremos isto José, se Deus quiser! (Ops!).