quinta-feira, 29 de março de 2007

Eu vou prá maracutalha eu vou...

É uma quarta-feira, pela manhã, D. Euzefrina ainda cozinha o resto do inhame que sobrou da noite anterior, quando lhe ocorre que este não era somente único como o último exemplar disponível do tuberculo em sua casa e que, provavelmente, logo mais ao meio dia, quando seu Zé das Covas voltar da lida, não haverá nenhuma raspa de comida para aplacar a sua costumeira fome. Seo Zeco, como é chamado pelos amigos, veio para maracangalha desde os 8 anos de idade, junto com a sua família. Desde lá, sua unica missão na vida é trabalhar um parco pedaço de terra que lhe foi concedido pelo tempo, na esperança que Izaurina e Zefirino, seus dois filhos, tenham na vida melhor sorte que a sua.

Mal posso pensar nos olhos de D. Ezefrina perdidos no meio do matagal, como que admirando os restos dos primeiros raios de sol, prenuncio de mais um dia de dificuldade e trabalho, muito trabalho.

- Hoje vai ser um dia daqueles! – Pensa alto D. Ezefrina.

E a vida não muda!!! Passa, mas não muda!

Lá em Maracangalha, há uma D. Ezefrina em cada casebre pobre, em cada família digna que lá habita. Os habitantes desta pequena cidade próxima de Salvador, são humildes trabalhadores rurais, que vivem a sua vida e tiram o seu sustento da terra, a qual, junto com a previdência, se constuituem nas únicas formas de sustento para este povo. Eles fazem parte da população que prefere ir às ruas na hora do noticiário da TV para uma coversa com os amigos do que ficar assistindo televisão. Eles não acreditam em mensaleiros, até porque, como integrantes da população rural baiana, não lhes cabe entender de política. “São sempre os mesmos!!! – Isto tudo é intriga!!!”, e por aí vai.

Quando das eleições, os donos de Maracangalha entram em cena, negociam os votos do povo com os salvadores de Maracangalha e a cena se repete. Ricos mais ricos e pobres, mais pobres. E D. Ezaurina continua com a sua panela vazia.

Já faz algum tempo, apareceram algumas cabanas do movimento Sem Terra nas proximidades da cidade, indicando que, em breve, haverá terra para todos. Seu Zeca poderá, quem sabe, até ganhar um título de propriedade. Quem sabe, nada vai acontecer, afinal, para continuarem na luta, os Sem Terra, de forma a continuarem Sem Terra , justificando o movimento, quando recebem a terra, vendem. Mas isto é outra estória.

Mesmo com toda a costumeira simplicidade, a vida em Maracangalha é muito boa. Não tem as coisas da cidade grande. Assim pensava o poeta que, um dia, pensou em ir , para Maracangalha, sem a companheira e vestido de “liforme” branco. Quem sabe criar novos versos, quem sabe provar o tempero da Ezaurina. O fato é que, se ruim fosse, lá ele não iria.

D. Ezaurina, beira de um fogão vazio, apela para a sua fé e nela deposita todo o seu desejo de que aquela situação se resolva, rápido. Meu Pai do céu há de nos ajudar!!! Olhando para o infinito, D. Ezaurina jamais imagina que, hoje, sua vida vai mudar.

Perto das duas horas da tarde, barriga na costela, um som vem de lá do pasto. D. Ezaurina corre, seu Zeco corre, todo mundo corre. Um acidente terrivel acaba de acontecer na serra. Todos saem em disparada para o local e lá encontram 4 pessoas, infelizmente, mortas. Sem perceber, restos de um papel estranho ainda caem do céu, sem chamar muita atenção. De repente, alguem grita – É dinheiro!! Tá caindo dinheiro do Céu!!!. Foi aquela correria. Gente de todo lado, sem terra, com terra, avô, avó, tio, filho, gato, cachorro e periquito. Cada um pegou o seu. Dinheiro pro café e dois dias de almoço já tem.

O que eles não sabiam era que cometiam, neste momento, um ato criminoso de maiores proporções. Afinal, este dinheiro, se o avião tivesse pegado fogo, seria de responsabilidade do seguro, deveria ter um dono. Mas quem é? O dono é quem contratou a empresa para transportar ? É da empresa que transportou o dinheiro ? O dono é de quem achar primeiro ? ou o Dono é o primeiro que aparecer dizendo que é o dono ?. Na minha terra tem um ditado que diz que “achado não é roubado”. Sem querer justificar um saque, o avião não foi derrubado pelos habitantes famintos de Maracangalha. Eles se apoderaram de um dinheiro que, se nossa digna consciencia não nos deixar faltar, não era de ninguém. É amigos, ELES, parecem, não fariam!

Ao tratar os habitantes de Maracangalha como bandidos, ELES se esquecem de seus verdadeiros papeis e exercem os papeis a ELES confiados por um sistema bastante suspeito e que trata os desiguais como anormais, mesmo sendo estes maioria. Confiantes na falta de força deste povo, mostram toda a sua ignorancia, no sentido explicito da palavra, da lei. Condenam sem julgamento, sem atenuantes. Até os mais perigosos marginais do Brasil estão tendo perdão, ou isto não justifica os resultados das últimas eleições ? Por que não D. Euzarina ?

Ao deixar uma cidade ser assaltada por pessoas que agiram em nome proprio ou de terceiros devidamente habilitados para tal, o Estado se furta de uma de suas mais importantes funções, que é garantir a soberania e a tranquilidade da população. Por que não fizeram nada logo ? Por que deixaram a lei agir na ilegalidade ? Por que policiais a paisano ? por que? Por que? Porque eles são pobres ? porque roubar é privilégio de ricos? Que sujeira!! Que vergonha!!! É prá isso que esse povo é usado nas eleições? É pra isso que eles devem continuar pobres ?

Dizem que o dinheiro transforma. São 5 milhões irrigados sobre uma comunidade pobre. Que situação embaraçosa! Que coisa ruim! que coisa boa!. Um paradoxo que nos leva a refletir sobre a verdadeira alma do nosso povo. Ladrões ou necessitados ? Se suas casas fossem dotadas de muro alto e cerca elétrica, e se eles tivessem carro na garagem e conta no banco, será que o seu direito seria assim dilapidado ? Pobres dos Pobres em um pais de Podres Pobres ? Pobres de caráter, pobres de espirito, pobres de tudo! A única riqueza que sabemos repartir é a da sabedoria e a vilania, já que estas nos sobra em cada poro. Pobre de Maracangalha, vitima de tamanha maracutaia! Agora, eu que não quero ir lá! Nem pra provar do tempero de D. Ezaurina, afinal ela não está lá mesmo. Me mandou um postal lindo do Caribe. Que férias inesquecíveis!

Um comentário:

Nelson Góes disse...

De Blog – 001
A Apresentação



Toc!... Toc!... Toc!...

Dá licença, Sêo Paulinho, que acabo de chegar!...
E venho, como certas visitas, com intenção de ficar...

A rima aí é completamente fora de propósito, aconteceu por acaso, simplesmente aconteceu... E trago como bagagem apenas uma pequena e surrada maleta, se Você abre a porta para mim já um tanto quanto desconfiado, será que foi no meu olhar que me traí, será porque já está Você calejado dessas visitas, ou será por causa da sutileza da numeração acima, não “1”, mas “001”?...
Ou será Você um profundo conhecedor da ”alma humana”, ridículo isso, mas que ficou bem poético, lá isso ficou!?...

Antes de mais nada, deixe que eu me apresente... Fazer que nem o dono da casa, para ver se dá sorte!...

Li a sua apresentação nesse blog!... E ela me fez lembrar muito de um cara que conheço...
Ele é meu sobrinho, por ser filho de minha irmã!...
Mas é meu primo, por ser filho de um meu primo!...

Até aí, são as armações do destino!...
Fui num Restaurante Chinês,
Dei de cara com uma Família Feliz!...

Mas, não se preocupe,
Que não comi sua Família Feliz!...
Na verdade, não estava no cardápio,
Mas, comi, comi muito, comi com muito gosto,
Foi a enfermeira que ajudou a lhe trazer ao mundo!...

Não sei se veio da sua mãe, na sua santa, inteligente e tão bem estudada ingenuidade, ou de seu pai, ilustre membro da confraria, mas a verdade é que, ela, por ter entendido aquele meu pequeno gesto no sentido canibalesco, e achar que, pelo resto da minha vida, iria conservar nas minhas entranhas um pedacinho do DNA daquela que, tendo ajudado a lhe trazer à vida, alem disso me serviu de pasto, ele, mente maligna, muito mais pensando em nós dois, eu e ela, no pasto, que naquele tempo, em Jequié, assim como hoje em algumas cidades mais conservadoras, Motel não era ainda coisa do conhecimento público...
Não sei bem se foi por isso, mas a verdade é que, por escolha dos dois, meu primo sobrinho se tornou também meu afilhado!...

Até aí, armação do destino!...

Nada a ver com Jequié, mas o resto foi Conquista!...
E, se hoje ele é também um grande amigo, bem, aí entram em cena os seus valores!...

É desse Paulinho que falo, e é a ele que me dirijo...

Vim aqui lhe dar as boas vindas, e fico feliz ao ver que Você preparou para nós uma casa muito grande, com uma única porta, que é a de entrada, mas uma casa com muitas janelas, e, de pronto, me aboleto numa delas, que, desde já, assumo como minha!...
Ou, em bom português,
Estou já nela!...

Seja bem vindo!... Que ousadia, e eu que chego à sua casa!...
Mas, sinto a minha, tão nobre é o seu gesto!...

Entro, e vejo um grande salão, cheio de luz, e bastante arejado!...
Vamos mantê lo assim, bastante claro, de ares sempre renovados!...

Cômodos, até que os tenha,
Mas, se tiver, que eles não tenham porta...
Mas, se tiver, que elas não tenham fechadura...
Mas, se tiver, que estas não tenham chave...
Mas, se tiver, que seja só praquelas horas...

E, se cômodos tiver, que as paredes sejam fixas,
Mas só as paredes, jamais as idéias!...

Faça isso, e terá para sempre a sua casa!...
Acredite em mim, eu sei do que estou falando...

É que sou um pouquinho mais velho que Você!...
Talvez Você nem saiba o que é isso, mas eu sou de um tempo em que, Comunista, quando chegava em Brasília, só roubava com a mão direita!...
Daí ficava todo mundo achando que a esquerda era honesta!...

Lêdo engano!...

Té a próxima!...



Aracaju, 31 de março de 2007
Nelson Góes