domingo, 17 de janeiro de 2010

A Bahia é uma Mula sem Cabeça

Conhecendo os nossos conterrâneos como conheço é certo que, muito em breve, o assunto mais comentado na roda será a declaração mais do que correta e oportuna do Nizan Guanaes. Falem de mim, mas não falem das minhas tranças.
Ora, antes de analisarmos a frase do Nizan (que não é dado a falar besteiras), vamos analisar um aspecto bastante curioso a cerca do ser baiano. Somos animados, festivos, inigualáveis no receptivo, fazemos piadas de tudo (até de nós), mas quando o assunto é “o futuro da Bahia”, encontramos o primeiro tapete vermelho e escondemos tudo lá em baixo. Não é assunto para rodas de amigos, para pensadores e imprensa, o “futuro da Bahia” simplesmente não é assunto. Estamos em uma sociedade de papel onde tudo é lindo, tudo é perfeito. Temos a maior costa oceânica do Brasil, as melhores praias, somos o maior PIB do nordeste, temos a 3ª capital do país em população, os melhores músicos, o melhor e maior carnaval e uma elite política que tudo faz pela Bahia, ou seja, não temos problemas.
Ao fechar meus olhos para pensar no passado, percorro a lista de baianos ilustres: Ari Barroso, Assis Valente, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Amado, João Ubaldo, Gregório de Matos, Castro Alves, Camillo de Jesus Lima, Afrânio Peixoto, Rui Barbosa, Cezar Zama, Teodoro Sampaio, Nina Rodrigues, Pedro Calmon, Ana Nery, Anísio Teixeira, Barão de Macaúbas, Divaldo Franco, Luiz Gama, Mãe Menininha do Gantois, Irmã Dulce, Joana Angélica, Maria Quitéria e Aristides Spínola, dentro de uma interminável lista de conterrâneos fazem e se fizeram respeitar no Brasil e no mundo, aumentando ainda mais a nossa sensação ufanista de que Baiano não nasce, estréia.
Abro os meus olhos e contemplo as ruas. O que aconteceu com a Bahia ? Vejo ruas sujas, insegurança, pobreza, mediocridade, afloramento e fortalecimento de uma sub-cultura (juro que não é preconceito contra os “Vem cá ordinária!”) e o mais grave, não vejo novos baianos entrando nesta lista. Os nossos baianos ilustres estão mortos ou perto disto, sem que haja nenhuma manifestação de novos nomes que venham nos resgatar das trevas. A política da Bahia é a mais imbecil e medíocre que eu tenho nota, desde os meus primeiros comícios (há 40 anos atrás). Pseudo líderes ufanados por uma propaganda mentirosa, ardis de submundo praticados com a proficiência que beira a irracionalidade, uma juventude rebolativa ao som do “Rebolation” e uma dicotomia estúpida entre o novo e o passado. Se o passado foi ruim, o novo será bom (e nada mais). Ou seja, se o novo for igualmente ruim ou pior, estamos fritos (quanto a isto não tenho mais dúvidas).
Uma sociedade de fato se faz com líderes naturais, pessoas comprometidas com o sucesso da sociedade, com determinação, tenacidade e perspicácia. Uma sociedade em decadência se entrega aos apelos fáceis da demagogia, aos puxa sacos e a ilusão de que isto não é problema nosso. Cadê a cultura da Bahia ? Cadê a genialidade que brotava nos lares pobres como Cacau nas lavouras de Ilhéus ?. Será que fomos contaminados com algum tipo de praga que aniquilou a capacidade das baianas de gerarem lideres, sendo esta geração uma seleção mal feita de frutos podres ? Cadê as universidades ? Cadê as discussões de alto nível ? Será que os nossos formadores de opinião de massa (jornalistas, radialistas e comunicadores) trocam as migalhas ideológicas dos seus cérebros por trocados vindos dos seus ofendidos ? Onde está a nossa capacidade de revolta e indignação? Temos os piores governos de todos os tempos e já reelegemos o pior prefeito do Brasil (juro que não fui eu quem falou) e vamos reeleger o pior e mais despreparado governador do Brasil (basta olhar o que está acontecendo no nordeste) e ainda assim nada se discute ? O lixo que nos sobra a escolher é opção ? O que estamos fazendo com o nosso litoral para que cidades como Ilhéus não entrem em falência ?
Tantas perguntas e nenhuma resposta, só uma certeza. Antes de pensarmos na peruca de Bel Marques ou na sua careca, pensemos em nós, baianos e em nossa Bahia. Vamos deixar isto tudo acontecer ? ou vamos reescrever a história do nosso Estado e do nosso povo ?
Quando Francisco Pereira de Souza, após 15 anos no Brasil, abandonou a sua capitania hereditária (cuja sede se localizava nas imediações do Farol da Barra, também conhecido como Ponta do Padrão), após um ataque dos Tupinambás insuflados pelos Franceses, levou os portugueses, com medo de perder o território para os seus inimigos, a precipitarem a vinda do Governador Geral Tomé de Souza para a Bahia, em 29 de março de 1549. Surgiu a primeira capital do Brasil e o germe da nossa sociedade. Após 461 anos, fico a contemplar o mar na esperança que novas caravelas aqui aportem, trazendo bravos novos baianos, que estejam dispostos a reconstruir aqui tudo que a nossa leniência foi capaz de destruir.

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